A Xícara e o Bule
Após o café da tarde, sobre a mesa da varanda, a Xícara disse para o velho Bule:
– Ah… eu sou a mais bela peça da copa!
À qual respondeu o Bule:
– Tu? Ora essa!
– Sim! Sou a mais bela peça, e a mais importante também! – retrucou a Xícara indignada.
– É mesmo? – perguntou o Bule, com ironia.
– Podes rir bule velho! – disse a Xícara, fechando a cara.
– Ora, não me leve a mal. Tu sabes que eu gosto muito de ti – disse amigavelmente o Bule cheio de chá.
Mas dona Xícara, ignorando o senhor Bule, continuou a discorrer amorosamente sobre as suas qualidades admiráveis:
– Pois então. É a mim que os senhores levam à boca, todos os dias, e me cobrem de beijos enquanto bebem o chá. Sou feita de porcelana delicada, com belas florzinhas pintadas de dourado, que refletem a luz e brilham como num sonho.
O Bule, muito sensato, tentou transmitir uma lição:
– Mas, minha amiga, o que realmente importa é o nosso destino. O que disseste sobre tuas florzinhas é somente vaidade, mas ir à boca dos senhores é o teu dever. E sou eu que fervo a água e preparo o chá no meu interior, o qual é servido por ti. Tal é o meu destino. Tu percebes que nós dois, juntos, temos um sentido na vida?
Dona Xícara riu-se, e disse com desprezo:
– Oh, sim! Então não sou diferente dos copos de vidro grosseiro que as crianças usam para beber? Escuta, filósofo, serei franca contigo: tu tens inveja… [...]
O Bule ia responder alguma coisa, porém desistiu. Como poderia argumentar com uma xícara vaidosa e cabeçuda?
Nesse momento o gato da casa, inesperadamente, pulou em cima da mesa da varanda tentando caçar um besouro. O gato foi tão rápido e desastrado que nem escutou os gritos do senhor Bule e da dona Xícara:
– Cuidado!
Mas era tarde demais, e os dois caíram no chão. O velho Bule, que tinha uma base pesada, caiu e rodou como um pião, ficando em pé quando parou. E a bela Xícara, pobrezinha, espatifou-se nas lajes da varanda. [...]
No último parágrafo desse texto, no trecho “E a bela Xícara, pobrezinha,...”, a terminação “-inha” na palavra destacada indica
compaixão.
inferioridade.
proximidade.
simplicidade.
tamanho.