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Sagot :
Resposta:
O césio-137 e o coronavírus estão no epicentro das piores crises na área de saúde pública pelas quais já passou o Brasil. O primeiro causou, em 1987, em Goiânia, o maior desastre radiológico de que se tem notícia até hoje; o segundo, em 2020, custou a vida de quase 200 mil brasileiros e brasileiras. Mas apesar de todas as semelhanças entre uma catástrofe e a outra, não houve muita discussão até agora sobre como a experiência adquirida na gestão da primeira crise poderia ser relevante para a elaboração de estratégias para a gestão da segunda. A comparação entre uma crise e a outra, como pretendo mostrar aqui, já é por si só bastante significativa no que concerne à quantidade de semelhanças.
Ambas as crises começaram pequenas e tiveram origem em atividades humanas. Elas são diferentes, portanto, de tsunamis ou terremotos, que não decorrem da ação humana e que já começam gerando grande impacto social. Tanto a pandemia quanto o desastre em Goiânia tiveram início com o trabalho de pessoas relativamente pobres. A primeira teve início, muito provavelmente, com o “transbordamento” do coronavírus, inofensivo para o animal hospedeiro, para algum ser humano num mercado de animais em Wuhan, na China. A segunda crise teve início com o trabalho de dois catadores de recicláveis, que acharam um equipamento de radioterapia abandonado numa clínica desativada, já quase em ruínas, em Goiânia, em 13 de setembro 1987. O vocabulário da “contaminação” perpassa as duas crises. Tanto em uma como na outra um considerável lapso de tempo se deu desde a primeira contaminação — através do contato com o césio-137 no Brasil, ou através do contato com o novo coronavírus na China — até que o poder público de cada país tomasse conhecimento da situação e se pronunciasse publicamente a respeito.
Tanto o césio-137 quanto o coronavírus são, para a maior parte das pessoas, como que abstrações científicas. Eles não podem ser observados fora de laboratórios ou centros de pesquisa. A única coisa que o público realmente percebe são os danos que eles podem causar à saúde. Sem a mediação de comunicação científica adequada, o público, de modo geral, não consegue sequer perceber um nexo causal claro entre dois eventos aparentemente desconexos: de um lado, a exposição ao vírus ou à fonte de radiação e, de outro, a posterior deterioração de nossa saúde. A própria ideia de “exposição ao vírus” ou “exposição à fonte de radiação” exige algum tipo de explicação, que pode não ser intuitiva para muitas pessoas. Mas como explicar para a população esse nexo causal quando a própria ciência
“Contou-nos a respeito dos dados dos pacientes, de como todos eles eram guardados com selos de ‘secreto’ ou ‘ultrassecreto’. De como a medicina e a ciência se submetiam à política.” (Aleksiévitch 2016, p. 149)
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Esta é uma passagem de Vozes de Tchernóbil: A história Oral do Desastre Nuclear, da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015. A obra resulta de centenas de entrevistas que a autora fez com as vítimas do desastre nuclear ocorrido em Tchernóbil, em 1986. A referência a passagens da obra de Aleksiévitch, ao longo deste artigo, terá como objetivo salientar o quanto o acidente em Tchernóbil e Goiânia
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