FUTURO DESUMANO
Revista Galileu, dezembro de 2012
Guru de algumas das maiores companhias do planeta – IBM,Coca-Cola, Mac Donalds,
Nestlé, etc.–, nas quais dá consultoria sobre o que fazer hoje para não se arrepender amanhã, o
futurólogo e cientista político Richard Watson, em seu novo livro, Future Minds (Mentes do
Futuro) alerta para o perigo de caminharmos em direção a uma sociedade onde as pessoas não
conseguirão sequer pensar sozinhas.
Já tendo escrito sobre o futuro dos arquivos, do dinheiro e das viagens, agora, ao discorrer
sobre o futuro das mentes, diz que só dá para planejar cenários olhando para todas essas coisas ao
mesmo tempo. “Se você trabalha num banco, tende a ler publicações sobre o mercado financeiro ou
economia, mas não sobre tecnologia e demografia. As pessoas leem cada vez mais sobre cada vez
menos assuntos, mas é onde todos os assuntos se unem que podemos identificar tendências. Por
isso, passo 80% do meu tempo lendo”.
E prossegue: “Há muitos falando sobre os aspectos bons dos celulares e do Google, mas há
um outro lado. Passamos os dias andando pela cidade olhando para uma tela de iPod ou BlackBerry
e prestamos menos atenção nas pessoas ao redor. Estamos construindo bolhas onde nunca somos
confrontados com ideias divergentes: selecionamos só as informações e os amigos que mais nos
agradam. Isso não é bom para o pensamento e a sociedade. Com isso estamos ficando não só mais
rasos como também mais estreitos. Os cientistas citam cada vez menos trabalhos e estamos todos
olhando para as mesmas fontes. Isso tem de ter algum impacto na originalidade.Podemos criar uma
geração que não poderá pensar por si própria. Eles têm de ficar online e ver o que o resto das
pessoas pensa antes de responder a uma questão. Sentimos que não precisamos mais aprender
porque é muito fácil achar os dados. Mas ter só o lado prático do conhecimento significa não
enxergar o contexto em que as informações surgem, o que é preocupante”.
Acrescenta ainda que “o digital cria um nível de conectividade, mas destrói outros”. Estudo
feito há dez anos mostrou que 10% dos americanos diziam não ter amigos para conversar em
profundidade sobre o que sentem. Hoje, esse número subiu para 25%.
No livro, o autor propõe que se pense mais devagar. Indagado como isso seria possível numa
sociedade que pede cada vez mais produtividade, ele responde: “Quando dizemos que alguém é
devagar, isso é associado à burrice. Concordo que a maioria dos governos e empresas pensa que, se
trabalharmos mais devagar, isso terá efeito negativo na eficiência, mas é discutível. Estamos muito
ocupados em nossos escritórios fazendo coisas que serão descartadas depois. Quando um
funcionário para um pouco para pensar, vê o seu papel dentro do negócio, identifica possíveis erros
e evita que aconteçam. Quando ele está indo muito rápido, o máximo que faz é reagir.
E conclui: “Meu temor é que não tenhamos escolha senão nos tornarmos 100% digitais. E
que a gente perca a capacidade de pensar profundamente, uma das coisas que nos define como
humanos”. (...)
QUESTÃO 01
De acordo com o texto, a capacidade de as pessoas pensarem por si próprias depende de
A) permanecer online para manter-se atualizado.
B) ter como resultados mais produtividade nos negócios.
C) considerar a diversidade de pensamentos para formular ideias originais.
D) planejar cenários com base em experiências com outros povos.
E) buscar o consenso com base em fontes com o mesmo perfil identitário.