A menina e o rato / autora: Clemilda Pestana
Quando me dei conta já estava pendurada na janela, com uma multidão me olhando e me pedindo para ter calma, que tudo ia dá certo. As crianças riam de mim.

-Vamos menina, desça desta janela, abra a porta e saia. Estamos aqui.

-Não posso seu Manoel, tem um rato e uma cobra me olhando, eles querem me pegar.

Naquela manhã, acordei bem cedo. A ideia era lavar toda roupa. O dia estava esplêndido, depois do longo feriado do carnaval. O cesto estava cheio de roupas sujas.

Peguei a primeira peça e quando olhei no fundo do cesto vi uma cabeça de um bicho horrível. Fiquei chocada, tampei e fui até à cozinha esquentar água para jogar.

Quando o bicho sentiu a água fervendo em seu corpo, se mexeu ,aparecendo um grande rabo.

Pensei, deve ser um rato e uma cobra, ainda com um pouco de coragem, tampei o cesto e esquentei mais água.

Voltei e joguei...

Desta vez, o bicho imenso pulou em cima de mim e começou a correria, o pesadelo.

Ele entrou no banheiro e eu no quarto... Foi daí naquele desespero que tive a rápida ideia de correr para a sala, gritando e ele atrás de mim.

Subi na janela e ele me olhando.

A essa altura todos os vizinhos já estavam ouvindo meus gritos de desespero e pensando ser ataque de um ladrão, vieram ao meu socorro. Encontraram-me pendurada na janela, tremendo , chorando e ameaçando me jogar e acabar com a minha vida.

Os bons vizinhos fizeram de tudo para que isto não acontecesse e o bondoso Sr. Manoel, velho e doente, veio prestar sua solidariedade.

Pegou uma tábua, colocou entre o muro e a janela, passou arriscando sua própria vida, para salvar a minha.

Tirou-me daquela janela, levou-me para fora da casa, voltou agora pela porta principal, pegou o bicho e matou.

Ainda chorando eu o agradecia. Ele era meu mais novo herói.

Ele sorriu aliviado de uma tragédia e revelou o enigma: não era rato, nem muito menos cobra, era um aflito sariguê .
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