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Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem reclamar, sem protestar, sem espinafrar! E meu amigo falou da água, telefone, Light em geral, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na rua, etc. etc. etc. Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.
Além disso, a verdade não está apenas nos buracos das ruas e outras mazelas. Não é verdade que as amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as cinzas de meu crepúsculo.
E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão – e seus tradicionais buracos. (Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana).

Texto 2-
Um fenômeno interessante da literatura brasileira é a persistência da crônica. Antes se chamou folhetim, e sempre achou quem a cultivasse com tão boa mão, que os seus produtos, efêmeros em teoria, se reunem não obstante com felicidade no livro, resistindo bem à prova deste veículo de escritos destinados a vida mais longa. As de Alencar são muito boas; são excelentes as de Machado de Assis e Olavo Bilac; as de João do Rio ainda se leem com prazer.
Embora seja imprudente comparar sem a perspectiva do tempo, talvez se possa dizer que estamos no período áureo da crônica brasileira. Mesmo porque, só agora tem sido cultivada como gênero autônomo, capaz de absorver vocações que até aqui preferiam realizar-se noutros, tomando-a como linha auxiliar. É notadamente o caso de Rubem Braga, que se realiza como escritor de alto porte sem deixar os seus limites. Outros, todavia, encontram nela válvula para componentes secundários da personalidade literária, e, sem nela se fecharem, trazem-lhe contribuição de igual nível. Em consequência, ela se vem tornando um dos ângulos mais vivos do panorama literário. (Antonio Candido, Textos de intervenção)


1 -No primeiro parágrafo do texto, está pressuposto que as crônicas:

a) destinam-se originalmente, em geral, à publicação em jornais e revistas.
b) são escritas como peças individuais e isoladas, mas já prevendo sua posterior reunião em livro.
c) dependem da publicação em livro para alcançar o reconhecimento do público e da crítica.
D) variam conforme o tipo de veículo de comunicação a que se destinam.
e) deveriam ser sistematicamente reunidas em livro, para que não se perdessem no tempo.

2- Em “As de Alencar são muito boas; são excelentes as de Machado de Assis e Olavo Bilac; as de João do Rio ainda se leem com prazer.”, encontra-se uma

a) gradação crescente, que revela o progresso do gênero crônica, do primeiro ao último autor mencionado.
b) gradação decrescente, que hierarquiza os autores citados.
c) enumeração de autores que, embora de valores diversos, guardam igualmente interesse.
D) sucessão cronológica de autores, que enfatiza a descontinuidade da produção de crônicas ao longo do tempo.
e) comparação entre os cronistas do passado, realizada com intenção irônica.

3- A ressalva expressa pelo autor em “Embora seja imprudente comparar sem a perspectiva do tempo” refere-se

a) ao risco que se corre quando se avaliam obras ainda muito recentes.
b) à dificuldade de se compararem obras produzidas em períodos históricos muito afastados uns dos outros.
c) ao problema de se privilegiar as obras do passado, em detrimento das obras do presente.
D) à pressa com que habitualmente são avaliadas, na crítica jornalística, as obras literárias recentes.
e) à carência de uma definição da crônica literária, que servisse de base para o juízo crítico responsável.

4- Segundo o texto, o escritor Rubem Braga

a) tem na crônica um meio auxiliar de expressão, secundário em relação às suas outras atividades literárias.
b) pratica a crônica como um gênero autônomo, embora prefira outros gêneros literários.
C) ultrapassa os limites da crônica, elevando-a ao nível da grande literatura.
d) utiliza a crônica como um veículo adequado aos limites relativamente estreitos de sua capacidade literária.
e) encontra na crônica um gênero para a realização plena de seu talento.


Sagot :

Resposta:

Etna bda question yaEtna bda

Resposta:

eu sei que e 1)B e 2)C

Explicação:

Agora as outras eu n lembro Ó╭╮Ò

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