O texto a seguir foi retirado de um livro que conta as memórias de
infância de um músico chamado Hermeto Pascoal, um dos grandes
artistas da música brasileira. O texto conta um pouco do encanto que
o menino Sinhô, nome pelo qual Hermeto Pascoal era conhecido,
tinha pela feira de Arapiraca.
Menino Sinhô
Sinhô adorava a feira. Enquanto seu Pascoal se ocupava com
as compras para a bodega, o menino se divertia a valer no meio
daquele mundaréu de gente. De calças curtas e suspensórios, ficava
zanzando de um lado para o outro, prestando atenção nos
pregoeiros:
Olha o pirulito doce da Bahia americana
Quem tem dente chupa cana
Quem não tem come banana!
... cantava o vendedor de puxa-puxa.
O vendedor de pães, equilibrando sobre os ombros dois balaios
dependurados num cabo de vassoura, cantava um verso muito
engraçado:
Olha o pão da maravilha
Quem tem dinheiro compra
Quem não tem espia!
A vendedora de munguzá, um doce de milho muito gostoso, falava
assim:
Ui, Ui, Ui!
Sinhô achava tudo muito divertido. Daquele mundo de sons, de
aromas e de cores, a música era do que ele mais gostava.
E música não faltava. Zabumbeiros, emboladores de coco,
glosadores, repentistas e cordelistas se exibiam ali. Curioso, o
menino, de rosto redondo e olhinhos apertados, se enfiava no meio
do povo para apreciar os artistas populares.
Tinha trava-línguas:
Era mais de cem socó
Para um socó só coçar.
Se a liga me ligasse, eu também ligava a liga
Como a liga não me liga, eu também não ligo a liga.
Puxador de coco com seu pandeiro:
Ô mamãe eu vi Totonho no quintal chupando manga
Eu vi Maria penteando seus cabelos botando água de
cheiro mais o óleo de mutamba.
Tinha tocador de realejo, e também a música que vinha dos
alto-falantes. Espalhadas pelos postes da praça central, aquelas
“cornetas mágicas” traziam até Sinhô as músicas que tocavam no
rádio, e que só ali, na feira de Arapiraca, ele podia ouvir - pois não
havia rádio em Lagoa da Canoa.
Enquanto nas grandes cidades o samba, o chorinho, o foxe, o
boogie-woogie e as marchinhas de carnaval do compositor
Braguinha fazia muito sucesso, no agreste só se ouvia o forró, o
xote, o xaxado, o maxixe e o baião.
Quando, no final da tarde, a feira se desfazia, Sinhô voltava
para casa. Em silêncio. Ecoando em seu pensamento, aqueles
ritmos e melodias iam sendo gravados, para sempre, em seu
coração pequenino.
3) No texto são citados alguns trabalhadores da feira.
a) Quais deles cantam ou declama poemas para divertir o povo?
b) Quais deles divulgam seus produtos com textos curtos em versos?
Me ajudem por favor