O movimento negro no Brasil - fortalecido principalmente nas décadas de 70 e 80 - tinha como objetivo levar para a sociedade a noção de quanto a discriminação racial - oriunda do momento escravocrata - até hoje é nefasta para os afros-descendentes. Baseado nisto, sempre houve uma discussão de como seria feita uma reparação por tantos danos causados a etnia negra neste país.
Durante a década de 80, conseguimos derrubar o mito da democracia racial. Entramos nos anos 90 já com o movimento bastante firme, enraizado. Os movimentos internacionais, como os direitos civis dos Estados Unidos e posteriormente a luta pela libertação de Mandela, na África do Sul, fortaleceram a nossa visão de como o racismo era uma questão mundial e ao mesmo tempo de que a situação no Brasil era muito difícil, até pelo fato de ter sido o último país do mundo a fazer a libertação da escravatura.
Agora, já nos anos 2000, tivemos a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, quando o mundo todo foi à África do Sul discutir a questão da discriminação, de etnia. E nessa discussão o mundo todo falou em reparação. Foi dito pelos povos que lá estavam que o racismo é conseqüência da escravidão, que assim como Holocausto, foi um crime de lesa-humanidade. Como o povo judeu foi lesionado com Holocausto, com a perseguição, o povo negro sofreu um Holocausto, e sofre até hoje com as não-reparações. O povo judeu até teve reparação feita principalmente pelos bancos alemãs, entidades que financiaram Hitler para fazer essa carnificina. Já a comunidade negra não. Não houve nenhum país do mundo com um projeto de reparação, mesmo sabendo-se que a maioria dos países que teve escravidão, a sua economia foi calcada no trabalho escravo.
A principal base da economia brasileira foi exatamente o trabalho escravo com plantação, com a retirada de pau-brasil. Por isso, costumamos dizer o seguinte: no Brasil quem são os ricos? São os que tiveram escravos para construir suas riquezas, em cima do braço escravo, sangue, suor e lágrima de alguns. Depois da libertação da escravatura, eles ficaram com os bens que os negros construíram. Para nós, 300 anos de escravidão, 300 anos de atraso. Quando houve a Abolição o negro não teve direito à indenização. Logo se o negro não obteve dinheiro nesse processo, ele teve e tem até hoje uma qualidade de vida muito prejudicada, porque ele, financeiramente, não herdou nada pelo seu trabalho. Nesse país se fala muito de herança, mas a herança que as pessoas construíram foi em cima de que alguém que trabalhou para elas.
Peguei de um site!