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Sagot :
Resposta:Cerradó (Foto: Sterling Zumbrunn)
Cerrado brasileiro. O bioma foi mais desmatado que a Amazônia nos últimos anos (Foto: Sterling Zumbrunn)
Os biomas brasileiros não são meras divisões de tipos diferentes de florestas. Estão conectados e influenciam uns aos outros. O cerrado, por exemplo, é onde estão as nascentes de vários dos rios que abastecem o Brasil. A Mata Atlântica e a Floresta Amazônica dependem desse sistema hídrico. Outro caso de relação é a devastação da Amazônia, gerada em partes pelo descaso com as áreas de Cerrado. É o que explica o vice-presidente da CI-Brasil, Rodrigo Medeiros.
A relação entre Cerrado e Floresta Amazônica ganha destaque porque 38% do que é bioma Cerrado está dentro dos limites estabelecidos como Amazônia Legal - uma demarcação política e não ambiental que abrange nove estados brasileiros (como mostra a ilustração abaixo). Tanto nessa porção de Cerrado quanto nos outros 62% encontramos intensa atividade agrícola e, consequentemente, desmatamentos. Para Medeiros, a proteção do Cerrado deveria ganhar mais atenção. Ele afirma, no entanto, que há muitos anos, os holofotes da causa ambiental se voltam apenas para a Floresta Amazônica. “Olhamos pra um lado e esquecemos o outro porque o desmatamento no Cerrado foi muito mais acelerado”, diz. Um exemplo disso é que o país monitora as derrubadas ilegais da floresta amazônica desde o final dos anso 1980. Para o Cerrado, os satélites só foram direcionados em 2002. Leia a entrevista completa.
ÉPOCA: Estudos recentes mostraram que o Cerrado sofreu uma forte devastação de sua paisagem nos últimos 30 anos, com índices de desmatamento tão preocupantes quanto os da Floresta Amazônica. Mas não parece receber tanta atenção. Por que isso acontece?
Rodrigo Medeiros: Nos últimos 30 anos, concentramos os esforços de proteção ambiental na Floresta Amazônica porque havia uma pressão internacional forte para que o Brasil não deixasse repetir ali o que aconteceu com a Mata Atlântica. Olhamos pra um lado e esquecemos o outro porque o desmatamento no Cerrado foi muito mais acelerado. A maior parte das áreas desmatadas foi convertida para uso agrícola sem controle e monitoramento. Desenvolvemos toda uma tecnologia avançada de satélites que monitoram a Amazônia desde 1988, mas o desmatamento na porção de Cerrado que não está na Amazônia Legal só passou a ser avaliado sistematicamente a partir de 2002.
ÉPOCA: Então agora, estamos mais atentos ao Cerrado?
Medeiros: A compreensão da importância ecológica do Cerrado é relativamente recente. Só nos anos 1990 a Conservação Internacional o classificou como um hotspot de biodiversidade. A visão tradicional era a de um ambiente menos nobre, cuja vocação era ser substituído por pasto e plantação. Hoje, entendemos sua importância. Até mesmo o agronegócio já compreende que não pode converter tudo para área plantada, sob pena de comprometer serviços ecossistêmicos fundamentais como provisão de água e estabilidade do clima.
ÉPOCA: Existe alguma conexão entre o desmatamento da Floresta Amazônica e o do Cerrado?
Medeiros: Sim, desde sempre. Na floresta tropical, a pressão para o desmatamento teve forte correlação com o avanço da fronteira agrícola do Cerrado. A devastação e os problemas amazônicos poderiam ser menores se tivéssemos olhado para o Cerrado 30 anos atrás. Grande parte do desflorestamento dos últimos 20 anos na Floresta Amazônica se concentrou no Arco do Desmatamento e nos eixos das principais rodovias. A origem é um processo de expansão da atividade agrícola e pecuária no Cerrado iniciada nos anos 1970.
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