Num bairro moderno
Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada; Pelos jardins estancam-se os
nascentes, E fere a vista, com brancuras
quentes, A larga rua macadamizada.
Rez-de-chaussée repousam sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama dos papéis pintados,
Reluzem, num almôço, as porcelanas. Como é saudável ter o seu
conchêgo, E sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprêgo,
Aonde agora quase sempre chego Com as tonturas duma apoplexia.
(...)
A leitura dessas estrofes de Cesário Verde permite a seguinte análise:
( ) na abordagem do real, o “eu lÃrico” comporta-se como um observador frio e impessoal das pessoas e das coisas, conforme determinavam os postulados do Realismo.
( ) a subjetividade do “eu lÃrico” é permeada por profunda emoção - um resquÃcio da estética romântica que entra em contradição com o ideário realista que o poeta abraçou.
( ) a subjetividade desse poeta emana diretamente da observação do real, que lhe ativa as sensações, levando-o a promover juÃzos de valor.
( x ) a postura assumida é eminentemente expressionista, na medida em que esse poeta deforma o real, seguindo os pressupostos do ideário naturalista.
( ) a objetividade desse poeta é fotográfica, por isso mesmo altamente comprometida com o ideário positivista em voga no tempo.