O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.
— Não temos dinheiro — fungou a mãe entre soluços.
— Não importa — respondeu o doutor.
Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.
Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios:
— Não pare, meu filho. Continue lendo...
COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 134.
No conto do escritor moçambicano Mia Couto, entre os recursos discursivos utilizados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se:
A
a construção de períodos curtos a fim de excluir a dinamicidade do texto.
B
a ausência de advérbios espaciais e temporais que auxiliem na progressão dos fatos.
C
a alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos.
D
a exclusão de expressões que auxiliem na construção de uma atmosfera narrativa poética.
E
o descaso com a pontuação e com a acentuação na construção das frases.