Antes de sair da aldeia, diante da minha recusa em ser batizado, Gersila se aproximou de mim, entre ofendida e irônica, e me jogou na cara que eu era como todos os brancos, que os abandonaria, nunca mais voltaria à aldeia, nunca mais pensaria neles. Jurei que não. Estava apavorado com o que pudessem fazer comigo (nada além de me cobrir de penas e me dar um nome e uma família da qual nunca mais poderia me desvencilhar). O meu medo era visível. Fiz um papel pífio. E eles riram da minha covardia. Jurei que não me esqueceria deles. E os abandonei, como todos os brancos. (CARVALHO, Bernardo. Nove noites. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 98.) Com base no fragmento acima transcrito e na leitura integral de Nove noites, assinale a alternativa correta. A) O fragmento transcrito é parte da narração do antropólogo Buell Quain, cujo suicídio, ocorrido em 1939, é o fato que motiva a investigação do narrador principal e que conduz toda a narrativa. B) O fragmento destoa da visão positiva sobre os resultados dos encontros entre diferentes culturas que predomina em Nove noites, pois traz o depoimento de alguém para quem o convívio entre índios e brancos tende sempre à desarmonia. C) O fragmento é parte de uma das cartas do engenheiro Manoel Perna e reforça suas advertências para que o narrador principal tome muito cuidado ao buscar a verdade sobre a morte de Buell Quain. D) O fragmento exemplifica a obsessão do narrador por buscar a verdade sobre a morte de Buell Quain, característica que desloca Nove noites, que se parece com obras ficcionais, para os campos da reportagem e da não ficção. E) O fragmento é parte da narração do jornalista e narrador principal que, adulto, volta a passar por situações de medo e terror, algo que já havia sentido quando, ainda criança, visitara o Xingu na companhia de seu pai.