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Quincas Borba, que não deixara de andar, parou alguns instantes. - Queres ser meu discípulo? - Quero. - Bem, irás entendendo aos poucos a minha filosofia; no dia em que a houveres penetrado inteiramente, ah! nesse dia terás o maior prazer da vida, porque não há vinho que embriague como a verdade. Crê-me, o Hu- manitismo é o remate das cousas; e eu, que o formulei, sou o maior homem do mundo. Olha, vês como o meu bom Quincas Borba está olhando para mim? Não é ele, é Humanitas... 12300 - Mas que Humanitas é esse? - Humanitas é o princípio. Há nas cousas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio único, uni- versal, eterno, comum, indivisível e indestrutível - ou, para usar a linguagem do grande Camões: Uma verdade que nas cousas anda, Que mora no visíbil e invisíbil. Pois essa substância ou verdade, esse princípio indestrutí- vel é que é Humanitas. Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais entendendo?- Pouco; mas, ainda assim, como é que a morte de sua avó... - Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supres- são de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da so- brevivência da outra, e a destruição não atinge o prin- cípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da morte. Supõe tu uWm campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir a outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividi- rem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir- -se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não che- gariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Cap. VI, 1891. Considerando o cunho social e crítico das obras ma- chadianas, o excerto do romance Quincas Borba aponta para uma discussão filosófica acerca das relações so- ciais, a partir da qual argumenta-se que Ao enaltecimento da morte como fim não apresen- ta relação com a estratificação social e nem mes- mo com a luta que se empreende na sociedade capitalista. B ao valer-se da metáfora das duas tribos em guerra pela sobrevivência, o texto aponta para uma ilus- tração do que seria a preservação da própria vida, por intermédio da morte como fim. Cao contrapor a morte à vida, o narrador enaltece essa última, como princípio universal para se con- cretizar sua filosofia. Dao definir Humanitismo como "certa substância re- côndita e idêntica", o personagem menospreza seu princípio filosófico, já que não condiz com a reali- dade universal. E com o intuito de provar seu princípio defendido na criação da filosofia do humanitas, o interlocutor de Quincas Borba deseja atuar como discípulo para, só assim, conseguir provar sua tese.​

Sagot :

Quincas Borba é um romance de Machado de Assis nele o filósofo Quincas Borba falece no início da história, com isso Rubião seu fiel discípulo resolve seguir suas ideias de modo que se muda para o Rio de Janeiro. Por isso o gabarito da questão encontra-se na letra E.

Quincas Borbas:

No Romance Quincas Borbas de Machado de Assis temos uma discussão filosófica a partir do humanitismo, que tem como principal lema "Ao vencedor, as batatas", a partir disso a autor trabalha a crítica de valores sociais e do capitalismo.

A obra narra a vida de Rubião, um ex-professor primário e que era enfermeiro de seu falecido amigo, paciente e filósofo Quincas Borbas, após a morte Quincas Rubião muda-se para a cidade, passando a viver uma vida provinciana e as consequências da mesma.

A partir disso, o personagem principal começa a ter contato com essa vida na cidade que o leva a se tornar “professor capitalista”

Leia mais sobre Machado de Assis em: brainly.com.br/tarefa/17387997

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