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Sagot :
Fé, gastronomia, cultura e danças. Se há quem duvide da capacidade de uma festividade reunir o que foi citado, é porque ainda não esteve em uma autêntica festa junina. No Nordeste, a tradição do São João, comemorado, principalmente, durante este mês, persiste. Celebrado oficialmente a cada 24 de junho, o Dia de São João Batista simboliza a entrada do último dos profetas na Igreja.
"Com a filha de João, Antônio ia se casar, mas Pedro fugiu com a noiva na hora de ir para o altar". É no trecho de uma das clássicas canções juninas que é possível perceber a presença de outras duas santidades da época. Além do dia 24, o mês junino rememora Santo Antônio - dia 13 - e São Pedro - dia 29.
E é na história destas três santidades que muitas pessoas se inspiram. Conhecido como aquele que ajuda as mulheres a conseguirem um bom marido, a história de Santo Antônio Casamenteiro coincide com a do padre da Comunidade Católica Shalom, Antônio Furtado. Atuando como sacerdote há 11 anos, afirma que já perdeu as contas de quantos casamentos realizou.
"Já celebrei muitos casamentos, principalmente de pessoas que viviam juntas, mas não eram casadas na Igreja. Me dá uma alegria muito grande poder fazer isso. Às vezes, são pessoas muito simples, aí faço casamentos de graça", disse o religioso.
Sobre a origem da relação de Santo Antônio com o matrimônio, o padre ressalta que "uma jovem queria muito casar, mas ela não tinha o dote. Quando Santo Antônio soube do fato, fez um bilhete para um amigo dele, que era rico, mandando dizer que desse para a jovem uma quantia em dinheiro igual ao peso do papel. A moça chegou lá, mostrou o papel e o homem riu dizendo que não ia pesar, acabou que pesou o necessário para o dote", contou Furtado.
Conforme o padre, seu nascimento já pode ser considerado como um milagre, e esse é um dos motivos dele ser um dos 2.576.348 Antônios já registrados no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Movimento Cultural
No Ceará, a identidade da data persiste devido aos grupos que se dedicam ao São João o ano inteiro. Este é o caso da Quadrilha Geração Profeta, da Aerolândia, onde João Felipe Lopes, 16, atua. Levando consigo o mesmo nome de São João, assim como outros 2.984.118 brasileiros, fazendo com que o nome esteja na 4ª posição de o mais comum no País, o jovem conta que a festividade junina vem mudando sua vida. "Sempre tive interesse em participar, mas nunca tive a oportunidade. Já pensei em desistir de dançar, porque eu era todo amarrado, mas melhorei. Eu gosto das quadrilhas e gosto das músicas dessa época. Próximo ano vou participar de novo", afirmou.
Fundada há seis anos, a Quadrilha Geração Profeta une jovens que participam da Igreja Católica. Segundo Ana Vanessa de Araújo, uma das coordenadoras, o grupo foi fundado a partir da percepção da necessidade de unir os jovens em um evento considerado sadio e produtivo.
Se muitos pensam que no Ceará os tradicionais festejos juninos se perderam com o tempo, o estudioso de culturas populares e doutor em Sociologia, Tadeu Feitosa, reitera que a tradição se apresenta com outras estetizações representacionais, porém, a essência é garantida pelos ritos de calendário e pelos espaços míticos e simbólicos.
"Mesmo ressignificada, continua a tradição. Há festas juninas de toda matiz no Ceará. A chita permanece, mesmo desejando o cetim e as vestimentas do glamour. Não é a estetização do vestuário que embotará a essência de se voltar sempre ao rito de calendário junino", diz. A relação entre a religiosidade com o período junino também é contemplada pelo docente. Feitosa conta que "São João tem a referência de que a visita à sua mãe, quando do seu nascimento, ia acumulando lenha acesa que serviria de tocha para iluminar caminhos dos que visitariam João", lembra.
Alto-Mar
Conhecido por trafegar pelo Mar da Galileia, São Pedro é fecha as comemorações religiosas do mês junino. Muitos pescadores têm devoção ao santo que é celebrado no próximo dia 29. "Eu gosto de estar no mar. O nosso dia a dia pertence a Deus. Pescador é o cristão mais sofrido do mundo, sabe se vai, mas não sabe se volta, é aqui que a gente se apega com o santo também". As palavras vêm de outro Pedro pescador.
Aos 59 anos, Pedro Alexandre da Silva conta que começou a trabalhar em embarcações no alto-mar desde que tinha 12 anos. Em suas lembranças, está um naufrágio com mais de um dia de duração: "nesse naufrágio a gente sofreu muito. Mas escapou todo mundo. Lembramos de São Pedro na hora. Foi a salvação da gente. Quando minha mãe faleceu, eu estava no mar, quando cheguei, eu soube ela já estava há três meses falecida. Eu era acostumado a passar meses embarcado", lembrou.
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