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A emenda do soneto
Antero Grego
Emerson Sheik virou o personagem da semana. Começou de forma curiosa, com brincadeira
atrevida e aparentemente contestatória. Terminou mal, com atitude de preconceito tão acentuada
quanto a daqueles que o criticaram por ter publicado em rede social foto em que dá beijinho num
amigo. No meio tempo, se descontrolou no jogo com o Luverdense e foi expulso depois de ficar
poucos minutos em campo. Dias agitados e que talvez marquem forte a carreira dele.
A história do selinho abriu espaço para todo tipo de reação - sobretudo as de tom pejorativo.
Nenhuma surpresa. Difícil imaginar prevalência de serenidade em temas tabus - em nossa
sociedade, por exemplo, manifestações carinhosas entre homens despertam urticária em machões
sensíveis.
Emerson bateu pé em torno das convicções dele, e nem precisava disso. Quem confia em si, não
deve explicar-se a todo instante, ainda mais para cobranças ignorantes. Ainda assim, num meio
preponderantemente conservador como é o do futebol, se viu obrigado a reafirmar a
heterossexualidade.
As declarações reiteradas de que a bitoquinha era uma provocação, e servia para medir o grau de
maturidade e tolerância das pessoas, foram insuficientes. Uma comissão de notáveis da principal
facção organizada do clube teve passagem livre para uma conversa particular com o debochado
atacante.
Após encontro com a embaixada diplomática, que tem extraordinário poder de convencimento com
base em palavras e métodos sábios o site da entidade publicou desculpas peremptórias de Emerson
a toda a nação alvinegra, com ênfase num detalhe. "Foi só uma brincadeira com um grande amigo
meu. Até porque não sou são-paulino."
Estragou tudo. Se forem fidedignas as palavras reproduzidas pelos redatores da página oficial na
internet, Emerson pisou na bola - e feio. Se antes tivera gesto destemido, agora se acovardou. Se no
princípio ergueu bandeira contra preconceito, no final desfraldou enorme pavilhão da intolerância.
O medo é sentimento humano - o da morte nos persegue desde o nascimento e justifica muitas de
nossas crises na vida. Compreensível, portanto, que Emerson sinta receio de represálias, e nunca se
sabe onde podem chegar os boçais. O pedido de desculpas bastaria para satisfazer os infelizes. Não
precisava do adendo (e imagino que seja verdade o que disse, pois não desmentiu). Assim o
episódio que largou como um brado na luta contra um preconceito fechou como reforço para
pensamento retrógrado. Bola fora e fez lembrar expressão antiga de quem criticava a xaropada de
sonetos ruins, que ficavam piores com supostos ajustes.
Publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 25 de agosto de 2013.

Sagot :

Resposta:

Gênero: Reportagem

Estrutura: Temos um título, a assinatura do autor, uma introdução sobre o assunto, e um desenvolvimento, além de uma conclusão com caráter informativo e opinativo do autor.

Tema: O preconceito envolvendo a homossexualidade, e as atitudes do jogador Emerson Sheik após ser alvo de ofensas e depois como forma de defesa repeti-las.

Estilo: Formal, texto informativo, descritivo e opinativo.

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