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Passados mais de 10 anos desde a criação da Lei nº 10.639/2003, o que se percebe na prática escolar, ainda, é o despreparo para trabalhar com as temáticas afro-brasileiras em sala de aula, juntamente com o desconhecimento, por parte dos professores, de uma historiografia que reconheça os negros em seu papel de protagonismo ou, então, a manutenção de materiais didáticos que os deixem à margem da História do Brasil.

Em meados dos anos 1970, por exemplo, ocorreu no Brasil um fenômeno da juventude escolarizada pelo regime militar, dos jovens negros motivados pelos Direitos Civis conquistados nos Estados Unidos com o Movimento Black Power, as guerrilhas na África e o surgimento de novos países africanos de língua portuguesa. Esses jovens negros brasileiros empreenderam um esforço de apropriação das questões políticas e sociais dos negros norte-americanos e em diálogo com uma África – imaginada –, assim, diante do fracasso do projeto integrador dos anos 1960, organizaram-se em grupos que promoviam os Bailes Black. Artistas como Tony Tornado, Wilson Simonal e King Combo destacaram-se com suas performances musicais revestidas de cunho político, no que viria depois a ser conhecido como o Movimento Black Rio, conforme você pode ver no vídeo a seguir:



Você, professor de uma escola pública de Ensino Fundamental, sabe que a História do Brasil é marcada por diversos recortes historiográficos como esse, mas que, no entanto, continuam desconhecidos no contexto escolar e na sociedade. Além disso, o livro didático disponibilizado em sua escola não traz contextualizações para além daquelas do período colonial brasileiro.

Dessa forma, escreva um texto, amparado pelo que é previsto na Lei nº 10.639/2003, que explique os seguintes pontos:

1. Como professor, qual o seu papel diante das histórias como a do Movimento Black Rio, abordada no vídeo?

2. Qual o seu papel junto ao corpo docente e à comunidade escolar?

3. Como desenvolver aulas que problematizem essa ausência historiográfica do livro didático?

Sagot :

Resposta:

Como professor, o conhecimento do que prevê a Lei nº 10.639/2003 deve sempre amparar a construção do conhecimento em sala de aula, mas não somente isso. Seu entendimento da legislação e da necessidade de sua prática deve projetar-se para além da sala de aula, de forma a contribuir com a disseminação do conhecimento sobre a Lei e sobre a importância de trabalhar-se a contribuição cultural dos africanos e dos afrodescentes na formação da cultura brasileira. Por esse motivo, histórias como a apresentada no vídeo não podem ser ignoradas pelos professores, pois representam uma importante fonte histórica, pautada pela memória dos personagens que viveram o período da Ditadura Militar, de protagonismo afro-brasileiro.

Dessa forma, o professor precisa alinhar-se com o corpo docente e toda a comunidade escolar, a fim de garantir os meios necessários para tornar popular essa nova historiografia, priorizando, se for o caso, filmes, documentários, reportagens e livros independentes, que já operem dentro da lógica de ensino regulamentada pela nova legislação.

Assim, o professor estará reconhecendo o espaço da sala de aula como um ambiente para pensar-se a cultura e a presença do negro no Brasil de maneira não estereotipada, apresentando suas lutas contemporâneas pela inclusão social, por políticas públicas destinadas à maior presença do negro no mercado de trabalho e nos campos educacionais, e também a efetiva aplicabilidade das leis que buscam a criminalização do racismo e a plena aceitação e o respeito à cultura e à herança histórica dos africanos e dos afrodescendentes.

Além disso, é imprescindível que o professor também tenha ciência de que a aula, com base nos princípios previstos na Lei, deve servir ao propósito de problematizar as causas históricas que revelam por que o protagonismo dos movimentos negros esteve durante tanto tempo às margens da História do Brasil, contribuindo, dessa forma, para uma educação que permita aos alunos e às novas gerações um olhar crítico diante da historiografia, da mídia e das práticas sociais.

Explicação: