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Com licença poética

Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Disponível em: . Acesso em: 18 dez. 2016.

Após a leitura do texto é correto afirmar que

Escolha uma:
a. a expressão “minha tristeza não tem pedigree” foi utilizada para dar graça ao poema.
b. o uso da crase em “já a minha vontade de alegria” é optativa.
c. o título do poema não tem ligação com o tema desenvolvido e foi utilizado como ironia.
d. o último verso refere-se à força feminina, que se molda e se transforma na vida.
e. é um poema que se apropriou de elementos de outro poema como recurso argumentativo.