Sinha Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem. Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teriam meio de conduzir os cacarecos. Viviam de trouxa arrumada, dormiriam bem debaixo de um pau. Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo. RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro, 2013.

O protagonista de Vidas Secas não possui linguagem verbal articulada e como consequência o autor
a)foca apenas na descrição do mundo exterior.

b)conta a história apenas da perspectiva dos demais membros da família.

c) propositalmente faz uso excessivo de sinais gráficos.

d) usa metáforas para justificar as ações das personagens.

e) adota o discurso indireto livre.​