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Sagot :
Já são 963 milhões os que não têm o que comer no planeta, com dois grandes países emergentes a albergar uma grande fatia do drama. O número do ano passado, em plena crise de alta do preço dos alimentos, já era conhecido: 75 milhões de pessoas engrossaram as já vastas fileiras dos que sofrem de fome. Agora, desde Janeiro, mais 40 milhões passaram a viver nesta imensa carência, pontapeando o dramático número dos famintos para perto dos mil milhões. Muito deste sofrimento ocorre na Ásia, onde a China e a Índia contribuem para avolumar o problema.Se o cenário já é grave, os tempos que se avizinham não devem trazer nada de bom. A actual crise, que ninguém arrisca vaticinar que terminará em breve, poderá tornar ainda mais miserável a vida de muitos. O relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) sobre a insegurança alimentar no mundo, ontem lançado, é revelador de como tudo se complicou nos últimos anos e de como se poderá ainda agravar. Mas há oportunidades, assim queira o mundo pô-las em prática. Cada vez mais distante está um dos mais cruciais objectivos do milénio, reduzir a fome para metade até 2015, face a 1990. Devagarinho, vários países começaram a trilhar esse caminho e, até 2003-05, havia alguma luz no fundo do túnel. Mas o mundo deu um trambolhão desde aí. Com um desinvestimento generalizado na agricultura e o preço dos alimentos a disparar, os fracos progressos tornaram-se notórios fracassos. Num ano, os números de famintos dispararam. E a tendência continua. Em 2008, a alta de preços atenuou-se, baixando 50 por cento face aos picos do início do ano. Mesmo assim, estão 28 por cento acima dos valores de 2006. E assim se deverão manter, devido ao aumento da procura e dos custos de produção. Estes últimos, como as sementes, os fertilizantes e os combustíveis, duplicaram nos últimos dois anos, levando os agricultores mais pobres a não aumentar a produção. Apenas os mais ricos, nos países desenvolvidos, conseguiram continuar a investir, o que permitiu algum alívio nos preços.
Mas, com a crise no crédito e a subida dos custos de produção, nem os mais ricos poderão suportar a expansão das produções, receia a FAO. O que se tornará numa nova bola de neve, que esmagará com inaudita força os mais fracos. E o objectivo de 2015 talvez seja realizado lá para 2150, disse Jacques Diouf, director da FAO. O peso da Ásia... A fome na África subsariana é a face mais conhecida da tragédia. Mas, apesar de tudo, houve progressos nesta região, com uma notória excepção para o Congo e alguns outros países. Mas é na Ásia que vive a maior parte dos subnutridos do planeta. Do total, 907 milhões de pessoas com fome estão nos países em desenvolvimento e 65 por cento vivem em apenas sete países: Índia, China, Congo, Bangladesh, Indonésia, Paquistão e Etiópia. A Ásia é a região de contrastes. Embora tenha histórias de sucesso, acumula grandes fracassos. Dois grandes colossos a nível demográfico e económico - a China e a Índia - albergam 42 por cento das pessoas que cronicamente passam fome. Estes dois países emergentes têm feito progressos, mas a tarefa é imensa, dado o aumento da população. Na Índia, outro factor positivo agravou o cenário: o crescimento da esperança de vida. O panorama não é muito optimista, mas não é possível desistir, sublinha a FAO. Há oportunidades, como o aumento do preço dos alimentos que podem dar mais rendimentos aos pequenos agricultores. Mas para que seja uma oportunidade, tem de haver distribuição de bens essenciais e apoios à agricultura. E garantir redes de segurança para os vulneráveis. Este esforço, calcula a FAO, exigiria um investimento nos países pobres de 30 mil milhões de dólares (mais de 23 mil milhões de euros). “Para milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, comer o mínimo para ter uma vida sã e activa continua um sonho longínquo. Os problemas estruturais da fome e da falta de acesso a terras, ao crédito e ao emprego, e os preços elevados dos bens alimentares, permanecem uma realidade cruel.” Disse Hafez Ghanem, subdirector da FAO. 907 milhões de pessoas, dos 963 milhões que não têm acesso a comida suficiente, vivem nos países em desenvolvimento.
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