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Sagot :
Resposta:
século da história, inventa ao mesmo tempo as doutrinas que privilegiam a história
dentro do saber – falando, como veremos, de 'historismo' ou de 'historicismo' – e uma
função, ou melhor, uma categoria do real, a 'historicidade' (a palavra aparece em 1872,
em francês). Charles Morazé define-a assim: "Devemos procurar para além da
geopolítica, do comércio, das artes e da própria ciência, aquilo que justifica a atitude de
obscura certeza dos homens que se unem, arrastados pelo enorme fluxo do progresso
que os especifica, opondo-os. Sente-se que esta solidariedade está ligada à existência
implícita que cada um experimenta em si, duma certa função comum a todos.
Chamamos a esta função historicidade" [1967, p. 59].
O conceito de historicidade desligou-se das suas origens "históricas", ligadas ao
historicismo do século XIX, para desempenhar um papel de primeiro plano na
renovação epistemológica da segunda metade do século XX. A 'historicidade' permite,
por exemplo, refutar no plano teórico a noção de "sociedade sem história", refutada por
outro lado pelo estudo empírico das sociedades estudadas pela etnologia [Lefort, 1952].
Ela [pg. 019] obriga a inserir a própria história numa perspectiva histórica: "Há uma
historicidade da história que implica o movimento que liga uma prática interpretativa a
uma práxis social" [Certeau, 1970, p. 484]. Um filósofo como Paul Ricoeur vê na
supressão da historicidade através da história da filosofia o paradoxo do fundamento
epistemológico da história. De fato, segundo Ricoeur, o discurso filosófico faz
desdobrar a história em dois modelos de inteligibilidade, um modelo de acontecimentos
(événementiel) e um modelo estrutural, o que leva ao desaparecimento da historicidade:
"O sistema é o fim da história porque ela se anula na lógica; a singularidade é também o
fim da história porque toda a história se nega nela. Chegamos a este resultado
paradoxal: é sempre na fronteira da história, no fim da história que se compreendem os
traços mais gerais da historicidade" [1961, pp. 224-25].
Finalmente, Paul Veyne tira uma dupla lição do fundamento do conceito de
historicidade. A historicidade permite a inclusão no campo da ciência histórica de novos
objetos da história: o non-événementiel; trata-se de acontecimentos ainda não
reconhecidos como tais: história rural, das mentalidades, da loucura ou da procura de
segurança através das épocas. Chamaremos non-événementiel à historicidade de que não
temos consciência enquanto tal [1971, p. 31]. Por outro' lado, a historicidade exclui a
idealização da história, a existência da História com H maiúsculo: "Tudo é histórico,
logo a história não existe".
Explicação:
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