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Maria procurou atendimento reclamando que estava ficando violenta, dormindo muito pouco e que tinha pensamentos suicidas frequentes. Ela se mostrava nervosa, torcendo as mãos e falando apressadamente, quase sem pausas. Maria tinha 40 anos e era viúva, nasceu em Fortaleza e morava em São Paulo há 17 anos.

Segundo o seu relato, a sua mãe biológica era amante de seu pai e morreu quando ela nasceu. O pai, então, a levou para sua casa e Maria foi criada pela mulher de seu pai, com os outros filhos do casal. Maria apenas ficou sabendo que não era filha legítima de sua “mãe” aos 20 anos, quando ouviu seu pai dizer à mulher que ela a tratava diferente por não ser sua filha legítima.

Maria disse que ficou com muita raiva de seu pai por ele nunca lhe ter contado sobre sua mãe biológica. Disse que, quando soube do fato, avançou sobre ele com uma faca, pois achava que, muitas vezes, fora maltratada pela “mãe” e tratada de forma diferente das outras filhas por causa disso. Ela diz que, a partir de então, passa a sentir um vazio muito grande que sempre a acompanha e que quando sente esse vazio cresce ela “perde a cabeça” e sente vontade de acabar com tudo, agindo violentamente contra outros e principalmente, com ela mesma.

Maria casou aos 16 anos, pois seu pai havia prometido uma de suas filhas ao filho de um colega. Na época, seu futuro marido tinha 40 anos. Em uma das vezes em que ele foi trabalhar fora, Maria foi estuprada por três homens, em sua casa. Sua filha mais velha é fruto deste estupro, mas o marido aceitou prontamente a gravidez. Maria teve mais dois filhos com o marido. Este faleceu de infarto. Nesse período, ela desenvolveu um quadro depressivo e passou a fazer uso de bebidas alcoólicas. Ela chegou a ser internada duas vezes ao longo de sua vida. Suas irmãs propuseram que ela se mudasse para outro Estado para que esquecesse os fatos ocorridos. A princípio, ela não quis ir, mas, depois, resolveu se mudar conforme sugerido pela família, deixando os filhos com os seus pais. Dizia que se sentia muito sozinha e sem o apoio de ninguém. Disse que se sentiu culpada pela morte da mãe biológica. Novamente menciona a sensação de vazio que a acompanha durante a vida, que faz com que fique “cega” de raiva por tudo, sem ver saída alguma diante do desamparo que é o seu destino.

O que a preocupava mais era o medo da revelação do segredo que manteve durante 19 anos, isto é, que sua filha mais velha era fruto de um estupro. Disse que nunca tratou a filha mais velha como tratava os outros filhos, ou seja, com atenção, porém também nunca lhes deu o carinho que, talvez, pudesse ter dado, pois não queria que ninguém percebesse que ela tratava sua filha mais velha com indiferença

Entretanto, na semana passada, ficou sabendo que o seu segredo foi parcialmente revelado pela irmã à sua filha. Sua irmã, em uma discussão com sua filha, disse-lhe que ela não era filha de quem ela imaginava ser. Maria ficou transtornada e com muita raiva de sua irmã. Sua filha mais velha ligou para conversar com Maria e saber a verdade. Maria não atendeu as ligações de sua filha e desde então ela tem sentido que pode perder o controle e tem pensado em se matar. Nesta sessão, ela afirmou que não havia qualquer possibilidade de contar a verdade à sua filha, pois seria muito difícil para a filha enfrentar a verdade e esta não a perdoaria.

Durante este relato, a paciente tremia e chorava intensamente e, quando conseguiu se acalmar, a estagiária interrompeu brevemente a sessão para conversar com o seu supervisor.

RESPONDA ÀS PERGUNTAS ABAIXO:

1) Apresente a queixa inicial (emergente) de Maria e faça uma articulação desta queixa com a principal questão (sofrimento) existencial (urgente) da paciente neste momento.

2) Busque levantar e justificar uma hipótese diagnóstica da paciente

3) A partir de como a paciente se mostrou durante sessão, como você considera que a melhor forma de conduzir e encerrar esta sessão? Justifique a sua decisão com trechos da sessão.