Resposta:
é uma história ambientada num morro da cidade do Rio de Janeiro. Uma trama que envolve um babeiro, um sargento de polícia, um judeu negociante, uma mulher disputada por dois homens e um embrulho de jornal. Novela que envolve a pós Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e a Era Vargas (1937 – 1945).
Foi uma época na qual pessoas, esperançosas na paz mundial, acreditavam que poderiam, a partir daquele momento crucial, viver sem sofrimento. Contudo, o nazismo fora derrotado, a ditadura no Brasil chegara ao fim, e mesmo com todas as mudanças sociais e políticas ocorridas no mundo pós-guerra, as pessoas continuaram a sofrer pelas mesmas razões de antes, o preconceito.
Composta por diálogos, a novela tem o seguinte desenrolar: Isaque, o judeu comerciante, que perambulava pela comunidade com seu caderno de anotações, após uma visita de cobrança na residência de uma de suas clientes, em conversa, conta um segredo misterioso ao menino Albino. Conta que possuía algo valioso: um pedacinho do que sobrara de seus pais, um pedacinho de sabão feito com seus restos mortais. O menino prontamente divulga o que acabara de escutar por toda a vizinhança do morro, deixando a todos curiosíssimos para ver o tal sabãozinho. A partir daí, o menino Albino não desgruda mais do Judeu. O Barbeiro, por demasiado intrigueiro, alega já ter visto o misterioso pedacinho de sabão, deixando a todos ainda mais alarmados, porém desconfiados da existência desse sabão feito de gente.
Certo dia, o negociante Isaque, numa das idas a barbearia, perde seu caderno de prestações onde estavam anotadas as dívidas de seus clientes. O comerciante da beleza masculina o encontra e comenta aos que estão na barbearia que no caderno do judeu continha a fórmula secreta da bomba atômica e que ele poderia ser um fugitivo da Alemanha nazista. O sargento da motocicleta, que estava na barbearia, ao ouvir essas acusações, questiona o Barbeiro sobre a origem daquelas afirmações. Esse fato desencadeia um afrontamento entre o Barbeiro, com sua simpatia ao regime comunista, e o Sargento atuante na Ditadura militar da Era Vargas.
As rixas do comerciante com o militar o leva a prisão. Desse acontecido, eis que surge uma aposta. O Sargento propõe ao Barbeiro que mostre o sabão feito dos pais do Judeu e, que se assim o fizesse, ele, a força policial, iria embora do morro. Porém, o Barbeiro só aceita a aposta mediante o Sargento deixar a sua mulher no morro. Contudo, o Judeu, avarento que é, salienta que somente mostraria o tal embrulho de jornal, contendo a sua relíquia, mediante o recebimento de todas as prestações que lhe cabiam.
Após receber todas as prestações, o destino desses dois homens fica na decisão do Judeu. Qual partido ele tomará? Quem permaneceu na comunidade do moro carioca?
Rufino dos Santos, com essa novela, provoca o leitor adolescente a refletir sobre as discriminações, as intolerâncias, os preconceitos vividos pelo homem, destacando fatos históricos como a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e a Era Vargas (1937 – 1945), períodos em que seres humanos viviam em meio a grandes violências, dentre elas, a não aceitação das diferenças sociais, culturais e políticas, a opressão cultural do outro, por parte das autoridades, que não aceitavam a liberdade de expressão.
A obra, com uma composição elaborada em diálogos e com uma linguagem simples, bem próxima das utilizadas nas interações juvenis, torna-se uma leitura agradável. Para uma compreensão mais aprofundada da trama é preciso, no entanto, que o adolescente leitor conheça o contexto histórico que a envolve. É uma leitura que remete o jovem leitor a reflexões sobre os problemas vividos por toda sociedade, sobretudo, um dos mais presentes na vida de qualquer pessoa, em qualquer idade – o preconceito.
Recomendo a obra O barbeiro e o judeu da prestação contra o sargento da motocicleta, livro integrante da literatura infantil brasileira, aos leitores em geral, em especial, aos adolescentes. Nessa fase da aquisição de conhecimento, em que são confrontados com posicionamentos frente à sociedade, os jovens têm, nessa obra, a oportunidade de realizarem uma leitura reflexiva, principalmente, em relação ao preconceito, mas de uma forma lúdica. A trama faz com que esse jovem leitor repense suas próprias atitudes, preconceituosas ou não.
