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Sagot :
Podemos resumir a abordagem ao suicídio em cinco etapas, descritas abaixo.
Primeira etapa: identificar sinais de alarme
A pessoa pode não citar diretamente o desejo de tirar a própria vida, porém, falas que remetam a desespero, desesperança, desamparo e depressão (os famosos “4 Ds”) devem ser exploradas, investigadas e levadas a sério. Acreditar que o mundo “será melhor sem sua existência”, vontade de “sumir” ou de “dormir e não acordar mais” merecem minuciosa investigação.
Segunda etapa: comunicar adequadamente
Além do MCCP, que nos permite ouvir ativamente, levando em consideração os medos, expectativas, anseios e necessidades da pessoa, é preciso, uma vez identificados os sinais de alarme da etapa 1, avaliar aspectos mentais. São eles:
Estado mental atual e pensamentos sobre morte e suicídio;
Plano suicida atual – se a pessoa tem um plano, se tem os recursos necessários para efetivar o ato e se ela pensa em quando irá fazê-lo;
Sistema de amparo social da pessoa – mapear pontos de apoio: familiares, amigos, cônjuge etc.
Falar a respeito de suicídio não coloca a ideia na cabeça das pessoas. Na verdade, trará alívio poder falar abertamente sobre os assuntos e questões com as quais estão se debatendo internamente, e, possibilitará reavaliar esse desejo e o plano, já que existe uma ambivalência nesta intenção. Exemplo de perguntas ativas que podem ser feitas durante a anamnese:
Você tem planos para o futuro?
Sua vida vale a pena ser vivida?
A morte para você seria bem-vinda?
Você tem pensado em se machucar, fazer mal a si mesmo ou pensado em morrer?
Você tem algum plano específico para tirar sua vida?
Você já fez alguma tentativa nos últimos tempos?
Veja também: Saúde mental de crianças e adolescentes associada a comportamentos de saúde
Terceira etapa: classificar o risco
Etapa necessária para definir a conduta. Lembrando que mesmo na classificação de “baixo risco”, trata-se de uma pessoa que deverá ser acompanhada de perto, de preferência por equipe multiprofissional, com um ecomapa destacando suas fortalezas e fragilidades.
Quarta etapa: conduzir corretamente
A etapa da conduta deve estar clara para todos os profissionais da APS, a fim de trazer segurança e cuidado para a pessoa em sofrimento.
Conduta no baixo risco: Realizar escuta ativa, fortalecer o vínculo, facilitar suporte e ajuda em seu contexto familiar e social. Faz-se necessário avaliar presença de transtorno psiquiátrico associado e instituir tratamento. Doenças comuns associadas ao comportamento suicida: depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos de personalidade (destaque ao borderline) e abuso de substâncias.
Conduta no risco intermediário: É preciso, além de acolher o sofrimento por meio de uma escuta terapêutica, realizar um contrato de não suicídio – esse pacto entre pessoa e profissional de saúde tem muito valor. Importante mapear os fatores de proteção e pedir permissão para entrar em contato com alguém da família, não para expor as particularidades do sofrimento, mas para garantir cuidado e vigia.
Podemos orientar sobre esconder armas, facas, cordas, medicamentos, não deixar a pessoa sozinha etc. Instituir tratamento para um possível transtorno psiquiátrico e, se necessário, encaminhar para um serviço de psiquiatria para avaliação e conduta.
Conduta no alto risco: A pessoa não poderá ficar sozinha nem por um minuto, nem para ir ao banheiro. Deve-se ficar 24h por dia vigiada, e, deve ser encaminhada imediatamente, via regulação, para um nível superior de atenção à saúde. Cuidar com meios de cometer suicídio mesmo dentro do serviço de saúde, no local do primeiro atendimento. O contrato de não suicídio pode ser útil neste caso também. Acionar a família.
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Quinta etapa: monitorar a pessoa por meio do trabalho em equipe
O cuidado não se encerra com o encaminhamento da pessoa. Ela deve ser acompanhada, acolhida e ter acesso garantido na APS sempre que necessário, já que é o nível de atenção que está mais próximo das pessoas.
O comprometimento da equipe pode fazer toda a diferença para a pessoa em cuidado. Por conhecer o território, a comunidade, as famílias e o contexto social, as possibilidades que a APS tem em amparar essa pessoa e sua família são imensos e devem ser aproveitados.
Explicação: É essencial a educação permanente em saúde das equipes sobre este tema, devido sua gravidade, prevalência e potencial possibilidade de prevenção. Suicídio é uma questão de saúde pública e envolve famílias, gestores, equipes de saúde, escolas, igrejas, universidades, comunidade, mídia e políticas públicas.
E você, tem dificuldade na abordagem do suicídio na Atenção Primária à Saúde? Já atendeu algum caso de difícil manejo? Ficou com alguma dúvida? Conte para nós nos comentários!
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