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1 A África, tanto tradicional quanto moderna, é um mundo variado e diverso. Na sua complexa realidade social, a África é composta de sociedades que têm cada uma sua individualidade cultural.
2 Estamos todos acostumados a escutar e a ler, até nos textos eruditos, os conceitos relacionados à África no singular. Cultura africana, civilização africana, africanidade no seu emprego singular remetem, sem dúvida, a uma certa unidade, a uma África única. Mas, diante da extraordinária diversidade e complexidade cultural africana, como é possível conceber uma certa unidade?
3 São bastante numerosos os estudiosos que se debruçaram sobre esta questão. Todos tentam provar que, apesar da patente diversidade, existem linhas fundamentais comuns que caracterizam a África como um continente cultural. Antes de examinar os argumentos que fundam essa conclusão, devemos rapidamente rever os conceitos de sociedade, de cultura e de civilização.
4 Sociedade e cultura são dois conceitos fundamentais da sociologia e da antropologia que definem as unidades concretas das quais devemos partir. No seu sentido habitual, uma sociedade é um grupo de pessoas cujo conjunto organizado de atividades é autossuficiente para garantir a cada uma delas a satisfação de suas necessidades materiais e psicológicas. Essas pessoas se consideram como formando uma unidade com limites bem definidos.
5 Uma cultura é um conjunto complexo de objetos materiais, de comportamentos, de ideias, adquiridos numa medida variável por cada um dos membros de uma sociedade determinada. As duas entidades são correlativas: uma sociedade não poderia existir sem cultura, essa herança coletiva, transmitida de geração em geração. Uma cultura supõe a existência de um grupo que a crie lentamente, a viva e a comunique. Tais são as unidades elementares que constituem a realidade social da África: sociedades que têm cada uma sua individualidade cultural.
6 As culturas concretas podem ser resumidas em alguns grupos vastos: as civilizações. Cada civilização resume o que seria comum a um certo número de culturas concretas que manifestam semelhanças essenciais. Não há oposição entre os conceitos de cultura e de civilização. A diferença se deve ao fato de que as civilizações não constituem realidades imediatamente perceptíveis para as pessoas que delas participam. Cada cultura concreta é ligada a uma sociedade determinada, cujos membros têm dela consciência. A civilização, sendo um agrupamento de culturas, não é, por isso, a tradição de um grupo, e nem sempre as pessoas que dela participam têm consciência dela.
7 Duas tendências, ambas fundamentadas na realidade africana, dividem-se na literatura especializada. Uma que se baseia nas diferenças e encara o continente africano como um mundo diverso culturalmente, mas sem negar a possibilidade de resumir essa diversidade em algumas poucas civilizações, o que fizeram diversos autores, partindo cada um de alguns critérios objetivos: geográficos, históricos, econômicos, tecnológicos, políticos, sociológicos, etc.
8 Outra, ultrapassando a primeira, acha que essas semelhanças apresentam uma certa unidade, uma constelação, ou seja, “uma configuração de caracteres que conferem ao continente africano” a sua fisionomia própria. É essa fisionomia comum que foi chamada de civilização africana, no singular, na obra de Leo Frobenius e outros. Os autores africanos em torno da revista Présence Africaine preferiram chamar de africanidade essa fisionomia cultural comum às culturas e civilizações africanas.
9 Como conciliar então a multiplicidade cultural da África com a unidade que constitui a africanidade? Culturas, civilizações e africanidade se situam em três níveis de generalização, mas são conceitos que expressam cada um a seu modo a riqueza das heranças da África negra. Elas não são excludentes, são complementares.
10 De Conacri a Mogadício, de Cartum (Sudão) a Durban (África do Sul), de Abuja a Maputo, de Windhoeck (Namíbia) a Ndjamena (Chade), percebe-se uma certa comunidade. São impressões inéditas, duplamente sentidas por estrangeiros ou mesmo africanos que, depois de morar fora do continente africano, retornam ou visitam outra região africana diferente daquela onde moraram anteriormente. Não é o sol, nem a pele escura que fundamenta essa impressão de comunidade da África. Tem-se sol e calor em todas as regiões do globo situadas entre os trópicos, mas nem por isso sente-se na África.
11 Essa unidade, forte e confusamente ressentida pelo viajante que retorna à África, é cultural. A experiência de similaridade que é experimentada em diversos pontos da África Subsaariana fundamenta-se na similaridade cultural.
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MUNANGA, Kabengele. Biblioteca EntreLivros: África. Edição especial, n. 6. São Paulo, 2007.
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