Moacyr Scliar era médico e também escritor. Gostava de pesquisar notícias reais e
transformá-las em contos de humor. Leia o texto a seguir e tente imaginar de qual notícia o autor
criou a história a seguir:
Em terra de cegos
Moacyr Scliar
– É uma barbaridade esta denúncia que a psicóloga Francinete Facundo fez. Você não acha?
– Acho. Cuidado que vem vindo um caminhão. Desvia, desvia!
– Pronto. Desviei. Cá entre nós, estes motoristas de caminhão são uns imprudentes. Imagina só, o cara dirige
à noite com os faróis apagados.
– Estavam acesos.
– Estavam acesos? Mas então são fraquinhos, os faróis dele. Mas eu sei a razão: querem economizar,
compram acessórios de segunda categoria, que não dão luz nenhuma. Pouca vergonha, você não acha?
– Acho. Cuidado, vem vindo um carro. Desvia depressa!
– Calma, já estou desviando. Imagina só, numa estrada movimentada destas o sujeito anda na contramão.
– Ele estava na mão dele.
– Estava? Não reparei. Mas voltando ao nosso assunto: esta psicóloga, a Francinete, não podia fazer a tal
denúncia. Ela não passa de uma preconceituosa, você não acha?
– Acho. Cuidado, tem um velhinho atravessando a estrada.
– Calma, já desviei. Puxa, mas você é nervoso. Não se preocupe, eu tenho reflexos rápidos. Agora: que
cabeça, a desse velhinho, hein? Atravessar a estrada numa hora dessas é a maior imprudência, você não
acha?
– Acho. Cuidado com o cachorro!
– Calma, rapaz, calma. Qual é o problema?
– O problema é que você atropelou o cachorro.
– Problema dele, meu amigo. Problema dele. Cachorro não tem nada que atravessar estrada. De mais a mais
deve ser um vira-latas, não se perdeu nada. Esses bichos são um perigo. Você sabia que eles podem
transmitir a raiva? Você não acha que são um risco para a saúde pública?
– Acho. Pare, rapaz, pare!
– Parar? E por que eu havia de parar?
– Porque estamos entrando numa estrada principal e havia uma placa dizendo "Pare".
– Placa dizendo "Pare"? Não vi. Mas esses caras não tomam jeito. Quando é que eles vão colocar placas em
Braille? Isto é preconceito. Como o da psicóloga. Exatamente como o da psicóloga
Assinale o humor presente no texto
a. o fato de a psicóloga Francinete Facundo fazer uma denúncia preconceituosa.
b. o fato de os motoristas de caminhão serem imprudentes, seguindo o personagem do texto.
c. o fato de o motorista do veículo e personagem da história estar muito nervoso.
d. o fato de o motorista e personagem da história ser cego e estar dirigindo um veículo.