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a expressão "deixa as fraldas ao vento" traz implícita uma mensagem de apelo à paz.

Sagot :

Ao evocar “Borzeguim, deixa as fraldas ao vento / E vem dançar”, o poeta nos convida ao incomensurável da Mata Atlântica, cujo vocativo “borzeguim” deve ser entendido como uma metonímia para designar o próprio “caçador” que está sendo avisado para sair de seu próprio caminho, e para “vir dançar” o ritual instaurado pela canção

 

A palavra “borzeguim” significa, conforme o Dicionário Aurélio, “botina cujo cano é fechado com cordões” (palavra derivada do neerlandês broseken)[No poema épico “MartimCererê”, de Cassiano Ricardo, os bandeirantes são representados como os “gigantes-de-botas”. RICARDO, Cassiano. In: MartimCererê, p. 45.] , e essas “fraldas” aqui deixadas “ao vento”, devem ser entendidas como as margens da encosta de uma montanha (como, por exemplo, a expressão “fraldas do mar”, usada para representar a imagem da praia). Ou seja, estamos aqui imersos no universo da fruição concreta da natureza, cujo fenômeno natural (o “vento”) deve continuar soprando as margens da mata para sempre. Ao pedir para que este suposto caçador saia da encosta da mata, o poeta transgride a fronteira entre o já conhecido e o desconhecido, e inicia um ritual pagão (literalmente, “aquele que mora no pago, no campo”), através de uma iniciação capaz de se transformar em um manifesto a favor da natureza. Ao usar a expressão “E vem dançar”, é interessante notarmos que o poeta convida o caçador para esta festa corpóreo-sensorial a partir do ponto de vista de quem já estava dentro da mata.