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A história se passa no mês de outubro, na cidade de São Paulo. Nessa época, todos estavam com a mania de colecionar figurinhas da Copa do Mundo. Qual era a figurinha que Edmundo precisava para completar seu álbum? Como ele a conseguiu? Explique

Sagot :

Resposta:

 

”.

Marinho, que era um advogado trabalhista em 1969, quando publicou “O Gênio do Crime”, escreveu logo em seguida “Caneco de Prata”, um livro infantil de narrativa não-linear –que ele apresenta aos leitores como uma “aventura surrealista”. Em 1983, voltou a publicar um livro de grande sucesso, “Sangue Fresco”, em que a turma do Gordo é sequestrada e levada para a Amazônia.

Há alguns anos, quando preparava um dos seus livros mais recentes (são 12 obras que têm como protagonista a turma de “O Gênio do Crime”), Marinho foi entrevistado por mim. Eu havia lido seu livro no começo da década de 1980, ainda criança, pouco antes ou pouco depois de tentar completar, sem sucesso, um álbum de figurinhas distribuídas em chicletes.

Naquela conversa, realizada em Monte Verde, cenário de algumas de suas obras, ele falou bastante de literatura, mas, sobretudo, de futebol.

Desde então, Marinho costuma responder meus e-mails, exceto quando sugiro que ele publique, num único volume e para adultos, todos os livros da coleção -sobre o que ele sempre silencia.

Diante da nova onda do álbum da Copa e das notícias de roubo de figurinhas na região do ABC (SP), enviei meia dúzia de perguntas despretensiosas (reproduzidas abaixo) a ele, que respondeu com um misto de impaciência e amizade.

Nas respostas, Marinho também conta que “Gênio do Crime” deve ganhar uma nova versão cinematográfica. A primeira foi feita em 1973. Dirigido por Tito Teijido, o filme se chamou “O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime”. Para o autor, a violência urbana atual será um assunto que terá que ser enfrentado pelo novo produtor.

Leia a seguir a carta e as respostas de Marinho.

*

“Caro Haroldo,

Você é um amigo que sempre deixa saudade, vê se aparece. Para responder as suas perguntas é preciso estabelecer um corolário básico que tanto na intenção do autor como na reação do público, não deixa margem a dúvidas.

A paixão futebolística, a vibração com os ídolos e com os estádios, a atenção sobre os campeonatos em andamento, a lembrança dos passados, a própria relação física entre as figurinhas e seus representados são elementos total ou absolutamente ausentes em “O Gênio do Crime”.

Nem mesmo chega a ser um livro sobre figurinhas de futebol, a não ser de maneira extremamente secundária e quase imperceptível.

As crianças são as que sabem melhor disso: nesses 40 anos de contato com os leitores não recebi mais de oito perguntas sobre futebol, nunca sobre o enredo, mas como curiosidade marginal referente à camisa do Corinthians, que o Alex leva na fotografia da quarta capa.

As únicas pessoas que perguntam sobre isso são as que não leram o livro ou as que, como você, excitadas pelo fato novo desse álbum novo, são levadas automaticamente a fazerem uma aproximação com um livro que, embora “en passant”, falou de figurinhas.

Mas você foi um bom leitor do “Gênio”, então é fácil lembrar:

1) O livro começa com Edmundo querendo encher o álbum e com uma fábrica que dá prêmios bons. O futebol não entra em cena.

2) Edmundo e Pituca procuram o Rivelino com a única finalidade de saber se o Rivelino pode ser útil a eles, dando-lhes a figurinha dele. Nem pedem autógrafo. Nem elogiam, nem se referem a nenhum jogo do Rivelino, nem se interessam em assistir a algum deles.

3) Compram o Rivelino do cambista, e daí para a frente tanto o futebol como a paixão por figurinhas somem do livro. Os dramas únicos são encher álbum (revolta na fábrica) e depois o único e exclusivo drama é seguir o cambista, achar a fábrica clandestina, depois achar o Gordo, que ficou preso, depois soltá-lo e se despedir do Mister.

4) O álbum de futebol deu um colorido inicial e depois tantos problemas, que a simples existência do mundo no futebol é considerada não existente.

Na região do ABC, foram roubadas milhares de figurinhas. Qual é o significado disto, mais de 40 anos depois da publicação de “O Gênio do Crime”?

Não fiquei sabendo, mas pelo jeito não em relação com uma “fábrica clandestina”, nem com um “anão de óculos”, nem com um “cambista”.

Hoje o Gordo teria dificuldades para circular em São Paulo. Como ele faria a investigação desse crime?

Sem dúvida, infelizmente o Gordo não teria hoje uma cidade tão acolhedora e poética para circular, seria difícil os meninos ficarem sozinhos de noite, num tenda, no matinho à beira do rio. Lembre-se daqueles adolescentes que foram acampar na periferia, o moço fugiu, mas a moça ficou prisioneira e foi barbaramente estuprada e feito “escrava” por mais de uma semana.