Florbela Espanca (1894-1930) foi uma

magistral poetisa portuguesa que, a despeito de

sua curta existência, teve uma alentada produção

lírica, em que predominaram os sonetos. Leia, a

seguir, algumas estrofes de diferentes poemas de

Florbela

I.

Longe de ti são ermos os caminhos.

Longe de ti não há luar nem rosas,

Longe de ti há noites silenciosas,

Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

(“Fumo”)

II.

Caem as folhas mortas sobre o lago;

Na penumbra outonal, não sei quem tece

As rendas do silêncio...

Olha, anoitece!

— Brumas longínquas do País do Vago...

(“Outonal”)

III.

Não há mal que não sare ou não conforte

Tua mão que nos guia passo a passo,

Em ti, dentro de ti, no teu regaço

Não há triste destino nem má sorte

(“À morte”)

IV.

A minha Dor é um convento ideal

Cheio de claustros, sombras, arcarias,

Aonde a pedra em convulsões sombrias

Tem linhas dum requinte escultural.

(“A minha dor”)

V.

Olha para mim, amor, olha para mim;

Meus olhos andam doidos por te olhar!

Cega-me com o brilho de teus olhos

Que cega ando eu há muito por te amar.

(“Súplica”)


Considerando as estrofes destacadas de Florbela

Espanca, pode-se reconhecer:

A) A ausência de elementos da natureza como

partícipes da ambiência descrita pelo eu lírico.

B) A presença expressa, em todas as estrofes, de

um interlocutor a quem o eu lírico se dirige,

amorosamente.

C) A predominância absoluta de elementos de

cunho denotativo, como convém às produções

poéticas.

D) A presença, em algumas estrofes, da temática

amorosa, com nuances voltadas para os

sentimentos de solidão, morte, desejo.

E) A recorrência da terceira pessoa do singular

nos pronomes e formas verbais que se referem
a um interlocutor objeto do sentimento do eu

lírico.