MEU LUGAR É UM “PULMÃO VERDE” NO MEIO DA IMENSIDÃO ACINZENTADA
Rafael Caxàpêj Krahô
No lugar onde vivo, na aldeia Krahô, o verde das matas e da floresta preservada encanta e propicia a vida aos indígenas, que desfrutam dos alimentos e de todas as riquezas que a floresta oferece, mantendo uma relação integrada e harmônica entre o homem mehin (krahô) e a natureza que o cerca. Porém, essa relação está sendo prejudicada devido às políticas externas do
Governo e à ação do homem branco no contexto de preservação do meio ambiente nos arredores da Reserva Krahô.
Primeiramente, é de suma importância para os indígenas krahô a preservação do meio ambiente, consagrando suas tradições em local tranquilo e comemorando o fenômeno natural da frutificação do cerrado e das matas. Entre elas, a chegada do cajuí, da bacaba, do buriti – tudo isso é comemorado com rituais da coleta dos mesmos.
Além disso, vale ressaltar que, mesmo os povos krahô deparando-se com uma demasiada evolução tecnológica, isso não permitiu que seus valores culturais fossem corrompidos, demonstrando uma importância apreciativa aos meros fenômenos que ocorrem na natureza.
Pois, para nosso povo, é de suma importância aquilo que o meio ambiente fornece e, como forma de agradecimento aos bens naturais, realizamos comemorações, exaltando desde o nascer de uma fruta até o cair de uma chuva, mostrando, então, que por mais que a natureza não precise da intervenção do homem em seu meio, contudo o homem necessita de tudo aquilo que ela tem a oferecer. Por isso é tão essencial saber respeitar seus limites.
A paz e a tranquilidade do lugar não estão sendo respeitados devido os cupen (homens brancos) estarem destruindo todas as florestas nos arredores da Reserva Krahô. A mente ambiciosa e a ação desses homens brancos têm substituído os verdes das florestas por plantios de soja, pastagens e queimadas.
Como consequência, as nossas noites já não são tão frias e aconchegantes. Segundo anciões, a chuva não chega mansa e tranquila, vem em forma de tempestade e violenta, em resposta à ação devastadora do homem branco.
Ademais, o homem branco (fazendeiros que são vizinhos da Reserva Krahô), leva sua vida marcada pelo ato da destruição dos recursos naturais mais importantes para a vida, através do desmatamento, do uso de pesticida nas lavouras e da mais nova “moda” de acabar com os matos das pastagens pulverizando veneno, que eu denomino como “o matador invisível” de tudo que o cerca. Isso tudo vem afetando a beleza do nosso lugar.
Outro fator preocupante é a política do Governo Federal em relação à liberação de agrotóxicos e pesticidas, algo que contribuirá ainda mais para a devastação da nossa mãe natureza e para a poluição do ar que respiramos. Com tudo isso, me deparo a pensar: será que o homem vai ser predador de si próprio? Até quando vamos sobreviver cercados por tamanha devastação?
Em consequência disso, os rios que percorrem a Reserva Krahô estão sofrendo, as águas já não estão cristalinas e volumosas como antes, o cerrado e as matas apresentam-se “desbotados”, a fauna procura abrigo em apenas um “pulmão verde” no meio da devastação: a Reserva Krahô.
Entristece-me quando em minha pupila reflete um céu acinzentado, mas me alegro em saber que o homem mais inteligente é aquele que preserva o seu habitat e esses são os mehin (índios krahôs).
O futuro do nosso lugar não está só nas mãos do mehin. Será que um dia não vamos ter mais uma bela natureza para contemplar? Diante dessas perguntas, é necessário que formemos uma corrente entre mehin e cupen para proteger a natureza.
Por outro lado, o Governo deve refletir e vetar a liberação dos agrotóxicos e pesticidas. E devemos criar ONGs para proteger o meio ambiente. Somente com essas atitudes o nosso “pulmão verde” não vai mudar de cor.
Professora Deuzanira Lima Pinheiro Escola Indígena 19 de Abril, Goiatins-TO
Qual é o tema do texto e por que o autor utiliza palavras que não são em Língua Portuguesa? *