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Sagot :
Em tais contos – de artimanha; ou de manhas e artimanhas; ou de astúcia, ou ainda, de esperteza, como costumam ser denominados – a trama é sempre organizada em torno de um personagem que utiliza a esperteza para obter o que deseja, ludibriando outro – ou outros – personagem ingênuo ou, pelo menos, não tão esperto como o protagonista. Dessa maneira, os ardis são sempre inesperados e engenhosos, nunca havendo uso de estratégias usuais e previsíveis.
Estes protagonistas - que podem ser pessoas ou animais – acabam por representar a possibilidade de ludibriar certos valores da sociedade que os segrega ou exclui, valores estes sintetizados na figura de seu antagonista. Assim, podem ser personagens que sofrem pela pobreza, o que lhes acarreta ausência de dinheiro, de comida e bens materiais; podem sofrer por problemas que se realizam no interior da família (ou de um casal, como a traição) que desafiam astuciosamente os valores morais vigentes; podem, ainda, ser alvo do autoritarismo de representantes de classes sociais hierarquicamente superiores.
(...) Os contos de artimanha são comumente organizados no eixo temporal, quer dizer, as ações narradas são apresentadas em uma ordem e sequência de tempo claramente indicadas. O tempo da narrativa costuma ser indefinido, mas o local pode ser especificado em alguns textos, já que se referem à tradição oral e, dessa forma, a sua origem histórica pode remeter a uma região específica[2] . As relações de causalidade marcam a progressão temática no que se refere à relação existente entre os motivos do protagonista, a estratégia que desenvolve para resolver o problema colocado a ele e às consequências/resultados do plano executado.
Nestes contos não há a presença do elemento mágico típico dos contos de fadas e de encantamento: a astúcia do protagonista o substitui. Tampouco há príncipes, reis e princesas: sendo assim, quando acontece a resolução do problema por meio do casamento, este acontece com a filha do patrão, por exemplo.
Do ponto de vista especificamente textual, a artimanha do protagonista costuma ser apresentada ao leitor – e comumente também aos seus antagonistas - no momento em que está sendo desenvolvida na história, e não de maneira antecipada. Quer dizer: em tais textos, não é usual que haja antecipação do plano do personagem esperto ao leitor; ao contrário, este toma conhecimento do plano na medida em que está sendo posto em ação, o que coloca suspense no texto, quase sempre surpreendendo, ao final, tanto personagens quanto leitores.
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