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Sagot :
Resposta:
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
O primeiro elemento que Camões traz e que fica evidente em uma primeira e breve olhada são as diversas contradições inerentes ao amor. Isso fica muito claro nas duas estrofes iniciais: é algo visível, mas invisível; dói, mas não sentimos a dor; nos faz encontrar descontentamento no contentamento e assim por diante. A apreciação desse poema por nós, leitores do século XXI, pode nos levar a enganos posteriores em nossa compreensão justamente por esses primeiros versos. Afinal, muitos poemas românticos possuem imagens similares a estas, mas falam a respeito de coisas bem diferentes.
Por isso, é importante frisar que a partir da terceira estrofe é preciso vencer a estranheza e evitar olhar o texto com nosso olhar moderno: é preciso atentarmos ao que o texto efetivamente diz e não partirmos de nossa experiência contemporânea a respeito do amor.
A terceira estrofe coloca para nós um elemento essencial à lírica de amor cortês: a servidão do homem pela sua donzela. É isso que significa o “estar preso por vontade”. Como diz C. S. Lewis sobre esse tipo de poesia e acerca da experiência de amor antes do Romantismo: “o amante é sempre servil”. Ou seja, o homem é mero vassalo de sua dama que, por sua vez, é sempre superior a ele. Por essa relação hierárquica, a mulher recebe de seu homem a satisfação de todos os seus caprichos e ele, por sua vez, deve aquiescer silenciosamente às suas censuras (inclusive às injustas). É essencialmente uma feudalização do amor.
espero ter ajudado
Explicação:
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