Num domingo, Onofre e Anésia dormiam, Antônio na sala roçando canivete na sola das botas, Maria, no quarto jogando talco nos vestidos da cômoda, deu um toque no pescoço. Nico passava café, Antônio sentiu o cheiro e foi sugerir um biscoito de polvilho, ele mesmo o faria se Maria deixasse.
- Faz, mas deixa a cozinha arrumada e não usa a gordura toda que amanhã faço sabão.
Antônio pegou na despensa os ovos, leite e polvilho azedo. No fogão a lenha a água borbulhava, Nico botou açúcar deixando-a leitosa, acrescentou o pó torrado pela manhã e levou a mistura até a pia onde a coaria no bule. Antônio usava a lateral da mesma pia, ficou em pé sobre o banco para alcançá-la, ia misturar os ingredientes numa bacia. Na frente deles uma janela dando para a represa, ouvia-se dali uma cachoeira ao longe, constante, úmida.
Nico derramou a água fervente, o perfume subiu. Antônio interrompeu o biscoito para ver a fumaça se erguer. Nico apoiou a caneca de água na pia, Antônio fechou os olhos para fortalecer o aroma. Abriu-os e não viu mais o irmão, ele não estava mais na cozinha. Antônio se espichou para ver a água dentro do coador, ela desapareceu deixando uma pasta pelas beiradas, a caneca apoiada na pia, Maria fechando o armário lá dentro.
- Maria? Vem ver, o Nico caiu no bule.
Maria demorou a vir, pela impossibilidade do fato e nenhuma urgência naquela idiotia. Vendo Antônio olhar pela janela, foi até a despensa procurar Nico, no terreiro, chiqueiro, paiol, milharal.
- Nico sair desse jeito? Sem falar nada?
- Saiu não, Maria. Ele foi embora no coador.
- Fala direito, Antônio.
- Ele tava passando o pó, hora que botou a água, sumiu.
- Daqui a pouco ele chega.
- Não mexe no bule, deixa do jeito que tá para ele voltar.
(...)
FUEGO, Andrea del. Os Malaquias. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010.3
No trecho do romance da escritora paulistana Andrea del Fuego, quando se dá conta de que Nico sumiu, Antônio fala:
- Maria? Vem ver, o Nico caiu no bule.
Com a análise atenta da fala de Antônio, podemos afirmar que não haveria mudança de sentido se o artigo definido “o” estivesse ausente da frase, pois o substantivo “Nico” é
A
um substantivo próprio, o que cria uma especificação por si só.
B
um substantivo primitivo, pois não deriva de outra palavra.
C
um substantivo simples, o que mostra seu caráter único.
D
um substantivo concreto, pois indica o ser denominado.
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