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Sagot :
Resposta:
vinte lições introdutórias constitui um empreendimento intelectual de larga escala, fruto de um trabalho de quase duas décadas protagonizado por dois reconhecidos teóricos e historiadores do pensamento social. Resultado de uma série de aulas proferidas por ocasião da passagem de Hans Joas pela Universidade de Chicago em 1985, o manuscrito viria a ser revisado e expandido nas décadas seguintes com a ajuda de seu ex-aluno Wolfgang Knöbl, coautor do livro. Publicado originalmente em 2004 − e traduzido para inglês em 2009 − o texto logo se tornou uma referência importante no campo da sociologia teórica, constituindo, segundo Eisenstadt, "talvez a mais compreensiva e crítica análise do desenvolvimento da teoria social da segunda metade do século XX". Em 2017, a obra finalmente chega ao Brasil pela Editora Vozes. A publicação, que conta com a tradução de Raquel Weiss, põe agora ao alcance do público brasileiro um texto de primeira linha que promete cobrir uma importante lacuna editorial. Sua sofisticação conceitual, aliada à capacidade de síntese dos autores, servirá de ferramenta valiosa tanto a estudantes iniciantes como a pesquisadores e professores.
Em linhas gerais, o livro de Joas e Knöbl pode ser considerado a contraparte europeia da obra homônima − Twenty lectures − publicada por Jeffrey Alexander em 1987. Se, por um lado, os autores são menos centrados na "lógica teórica" do que Alexander (1987) − o que faz com que sua reconstrução pareça, às vezes, mais fragmentada ou mesmo dotada de motivações metateóricas menos aparentes −, por outro, essa abertura vem acompanhada de uma surpreendente amplitude de escopo. Com quase o dobro de páginas, as vinte lições propostas por Joas e Knöbl cobrem não só o desenvolvimento da sociologia norte-americana no pós-Segunda Guerra Mundial, como era o caso de Alexander, mas também os mais importantes desdobramentos da teoria social europeia.
Nesse sentido, a estrutura geral do livro pode ser dividida em duas grandes partes: nas primeiras oito lições, os autores abarcam basicamente o mesmo período analisado por Alexander, isto é, aquele da hegemonia parsoniana durante os anos 1940 e 1950 (lições II, III e IV) e as respostas críticas que emergiram em solo americano nas décadas seguintes, tais como o neoutilitarismo (lição V), o interacionismo simbólico (lição VI), a etnometodologia (lição VII) e a teoria do conflito (lição VIII); na segunda parte do livro, a reconstrução volta-se para a teoria social europeia por meio da análise de algumas figuras centrais que emergem nos anos 1970 e 1980, tais como Habermas (lições IX e X), Luhmann (lição XI), Giddens (lição XII) e Bourdieu (lição XV), assim como para uma série de desdobramentos ou tradições igualmente importantes naquele contexto: estruturalismo e pós-estruturalismo (lição XIV), teorias antiestruturalistas (lição XVI), teoria feminista (lição XVII), teóricos da (crise da) modernidade (lição XVIII) e neopragmatismo (lição XIX). Essa mudança de eixo da teoria sociológica − que se volta novamente para a Europa depois dos anos 1970 − constitui, aliás, uma das teses centrais do livro.
Em primeiro lugar, a montagem histórica centrada na teoria da ação parsoniana aparece como mote de uma radical crítica ao funcionalismo − compreendido como uma espécie de anti-humanismo estéril; crítica que reaparecerá várias vezes ao longo do livro, principalmente nas lições dedicadas a Giddens (XII) e aos antiestruturalistas franceses (XVI). A respeito destes últimos, aliás, é digno de nota o fato de que autores por vezes marginalizados em relação aos grandes debates da teoria social (Catoriadis e Ricoeur) tenham sido resgatados de maneira tão entusiasmada. Coadunam-se ainda com essa orientação geral da obra a não aparição de Robert Merton − talvez a ausência mais significativa do livro ao lado de Norbert Elias −, as duras críticas feitas à chamada teoria da modernização (XIII) e o tratamento relativamente menos simpático e mais superficial dedicado a Luhmann (XI) quando comparado a seu concorrente alemão Habermas (IX e X). E mesmo este último, que aparece como figura destacada que teria fornecido talvez a maior contribuição à teoria da ação desde Parsons − e não por acaso o único, além de Parsons, a receber mais de uma lição −, é criticado por ter cedido demasiadamente às investidas de Luhmann, incorporando a linguagem sistêmica de maneira problemática em seu quadro teórico.
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