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2) Os filósofos medievais eram os padres e se preocuparam em basear suas teorias na filosofia de filósofos antigos. Qual o motivo desses padres fazerem isso? *​


Sagot :

Resposta:

O desenvolvimento do conhecimento durante a Idade Média conta com particularidades diversas que se afasta daquela errônea perspectiva que a define como a “Idade das trevas”. Contudo, a predominância dos valores religiosos e as demais condições específicas fazem do período medieval apenas singular em relação aos demais períodos históricos. Nesse sentido, o expressivo monopólio intelectual exercido pela Igreja estabeleceu uma cultura de traço fortemente teocêntrico.

Não por acaso, os mais proeminentes filósofos que surgiram nessa época tiveram grande preocupação em discutir assuntos diretamente ligados ao desenvolvimento e à compreensão das doutrinas cristãs. Já durante o século III, Tertuliano apontava que o conhecimento não poderia ser válido se não estivesse atrelado aos valores cristãos. Logo em seguida, outros clérigos defenderam que as verdades do pensamento dogmático cristão não poderiam estar subordinadas à razão.

Em contrapartida, existiam outros pensadores medievais que não advogavam a favor dessa completa oposição entre a fé e a razão. Um dos mais expressivos representantes dessa conciliação foi Santo Agostinho, que entre os séculos IV e V defendeu a busca de explicações racionais que justificassem as crenças. Em suas obras “Confissões” e “Cidade de Deus”, inspiradas em Platão, ele aponta para o valor onipresente da ação divina. Para ele, o homem não teria autonomia para alcançar a própria salvação espiritual.

A ideia de subordinação do homem em relação a Deus e da razão à fé acabou tendo grande predominância durante vários séculos no pensamento filosófico medieval. Mais do que refletir interesses que legitimavam o poder religioso da época, o negativismo impregnado no ideário de Santo Agostinho deve ser visto como uma consequência próxima às conturbações, guerras e invasões que viriam a marcar a formação do mundo medieval.

Contudo, as transformações experimentadas com a Baixa Idade Média promoveram uma interessante revisão da teologia agostiniana. A chamada filosofia escolástica apareceu com o intuito de promover a harmonização entre os campos da fé e da razão. Entre seus principais representantes estava São Tomas de Aquino, que durante o século XIII lecionou na universidade de Paris e publicou “Suma Teológica”, obra onde dialoga com diversos pontos do pensamento aristotélico.

São Tomás, talvez influenciado pelos rigores que organizavam a Igreja, preocupou-se em criar formas de conhecimento que não se apequenassem em relação a nenhum tipo de questionamento. Paralelamente, sua obra teve uma composição mais otimista em relação à figura do homem. Isso porque acreditava que nem todas as coisas a serem desvendadas no mundo dependiam única e exclusivamente da ação divina. Dessa maneira, o homem teria papel ativo na produção de conhecimento.

Apesar dessa nova concepção, a filosofia escolástica não foi promotora de um distanciamento das questões religiosas e, muito menos, afastou-se das mesmas. Mesmo reconhecendo o valor positivo do livre-arbítrio do homem, a escolástica defende o papel central que a Igreja teria na definição dos caminhos e atitudes que poderiam levar o homem à salvação. Com isso, os escolásticos promoveram o combate às heresias e preservaram as funções primordiais da Igreja.