Aquele bêbado
Juro nunca mais beber e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: --- Alcool.
O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana.
Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de India Reclinada, de Celso Antônio.
Curou-se 100% do vício - comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma
carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.
3. A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito
irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma metaforização do verbo "beber". Com vistas no
efeito de sentido gerado pelo recurso da linguagem figurada, comente de que forma o sentido literal é
desconstruído