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Carta ao FHC
Presidente:
Tenho certeza de que se alguém lhe perguntar quem sou eu, o senhor responderá: o
escritor. (...)
Pois é, meu querido presidente (...) eu estou aproveitando aqui o meu espaço no
Estadão e os seus últimos meses aí no comando para lhe pedir um favor. (...)
O que eu quero, meu presidente, é que antes de o senhor deixar o governo, me
reconheça como escritor. Não apenas eu. O Veríssimo, o Ubaldo, o Loyola, o Mateus, o Jorge
Amado, o Machado de Assis, também estão na mesma situação minha. Como está o meu filho
Antonio. Resumindo, meu caro: não existe a profissão de escritor no Brasil. Vou repetir: não
existe.
Quando declaro meu Imposto de Renda (não existimos, mas pagamos), tenho de me
dizer ou jornalista ou assemelhado. É duro, meu presidente, depois de 42 anos escrevendo (e
vivendo disto) ainda seja apenas um elemento assemelhado. Não é nem semelhante, é
assemelhado mesmo!
Minha profissão não existe, presidente. Não posso me aposentar... Não tenho um
sindicato que me represente. (...)
Dá um jeito aí, Fernando. Oficializa a coisa. Nos dê uma profissão, com direito a uma
cidadania digna. (...)
Só para lhe dar um exemplo de um país onde o escritor é um profissional reconhecido
pelas leis, e amparado por elas, cito a Inglaterra, onde toda editora a publicar um livro, tem que
mandar um exemplar para cada biblioteca pública do país. Claro que os 40 mil exemplares são
comprados pelo governo. Quem ganha? Em primeiro lugar, o público. Ganha a editora, ganha
o escritor. Ganha o País. Ganha a profissão. (...)
Quebra essa pra gente, FHC. Mesmo porque você vai sair aí do Planalto Central e vai
passar o resto da sua vida a escrever uns livros. E não vai querer que na sua biografia para o
século seguinte alguém leia: “Ex-presidente da República, no fim da vida tornou-se importante
assemelhado.” (...)
(Mário Prata. O Estado de S.Paulo, 03.07.2002. Adaptado)
2. Embora o conteúdo da carta seja sério, o autor também faz uso de humor.
a) Transcreva duas passagens em que o humor esteja presente.
b) Explique como a linguagem empregada pelo autor gera humor nas duas passagens
transcritas na questão a.

Sagot :

Resposta:

a)No texto I, a citação de Roseli Lopes, coordenadora da Febrace, (“brincamos que vamos encontrar o próximo

Nobel, estamos mexendo na base”), assim como a de Luiz Edmundo Rosa, diretor de educação da ABRH no

texto II (“As pessoas que entrarão no mercado de trabalho a partir da próxima década já nasceram conectadas e

se diferenciarão pelo envolvimento com questões ambientais”) configuram argumentos de autoridade

b)A abordagem inicial da solicitação, endereçada ao presidente FHC, surpreende o leitor e instaura o humor,

pois os autores citados são expoentes máximos da Literatura brasileira, não necessitando por isso de nenhum

reconhecimento oficial para serem considerados como escritores. A informalidade do discurso e o uso de gírias

ou expressões populares contrastam com a linguagem usada normalmente em solicitações oficiais devido ao

fato de que o destinatário é, naquele momento, presidente da república, mas futuramente um provável

escritor,por isso diretamente interessado em aceder à solicitação que lhe é feita.

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