O texto a seguir faz parte do poema “Marília de Dirceu”, do poeta árcade brasileiro Tomás An-tonio Gonzaga. Leia-o e responda às questões propostas.
Lira XIV
01. Minha bela Marília, tudo passa;
02. A sorte deste mundo é mal segura;
03. Se vem depois dos males a ventura,
04. Vem depois dos prazeres a desgraça.
05. Estão os mesmos Deuses
06. Sujeitos ao poder ímpio Fado:
07. Apolo já fugiu do Céu brilhante,
08. Já foi Pastor de gado.
09. A devorante mão da negra Morte
10. Acaba de roubar o bem que temos;
11. Até na triste campa não podemos
12. Zombar do braço da inconstante sorte;
13. Qual fica no Sepulcro,
14. Que seus avós ergueram, descansado;
15. Qual no campo, e lhe arranca os frios ossos
16. Ferro do torto arado.
17. Ah! Enquanto os Destinos impiedosos
18. Não voltam contra nós a face irada,
19. Façamos, sim, façamos, doce amada,
20. Os nossos breves dias mais ditosos.
21. Um coração que, frouxo,
22. A grata posse de seu bem difere,
23. A si, Marília, a si próprio rouba,
24. E a si próprio fere.
Vocabulário: “ventura” (v. 03) = boa sorte, felicidade; “ímpio” (v. 06) = impiedoso; “Fado” (v. 06) = destino; “campa” (v. 11) = laje que cobre a sepultura; “Sepulcro” (v. 13) = sepultura, túmulo; “arado” (v. 16)= instrumento de cultivo da terra; “ditoso” (v. 20) = feliz, afortunado; “difere” (v. 22) = adia, demora.
Ao se dirigir a Marília, qual dos grandes temas clássicos o eu lírico procura defender (Fugere urbem, Aurea mediocritas, Locus amoenus, Inutilia truncat ou Carpe diem)? Que argumentos o eu lírico apresenta a Marília que o levam a defender esse tema?