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Sagot :
Resposta:O DISCURSO CIVILIZATÓRIO NO BRASIL
Sob a monarquia do século XIX, principalmente a do Segundo Império, foi muito forte o discurso civilizador. Em 1841, um relatório do Ministério da Justiça distinguia os habitantes do litoral, os civilizados, dos demais habitantes do sertão, tidos como bárbaros pelas autoridades monárquicas (MATTOS, Ilmar R de. O tempo saquarema. São Paulo. Hucitec, 1987: 33), principalmente no período de governo dos dirigentes Saquaremas. Era muito caro a este grupo de senadores, magistrados, ministros, conselheiros de Estado, bispos, professores, médicos, jornalistas, literatos e os ocupantes de cargos nos mais distintos escalões administrativos do Império, além daqueles que poderiam ser classificados como agentes “não públicos”, a preocupação em justificar suas ações pelos parâmetros fixados tanto com base na adesão aos princípios de ordem e civilização quanto pela ação visando a sua difusão. Os cidadãos que viviam o momento de consolidação do Império do Brasil, os homens livres, tanto precisavam se reconhecer quanto serem reconhecidos como membros de uma comunidade – o mundo civilizado – animada pelo ideal do progresso. O Império vendia a imagem de ocupar um lugar distinto entre as nações, no mundo civilizado, pela sua posição geográfica (MATOS, 1987: 13).
O discurso civilizatório fazia com que até mesmo alguns elementos de crítica ao regime monárquico fossem tomados em favor da Monarquia. Assim, providências como a repressão ao tráfico, adotadas a partir da década de 50 do século XIX, apareciam como uma ação civilizadora da Coroa, apresentando a esta na condição de uma entidade que agiria sempre acima dos partidos e dos interesses particulares e imediatos, e preocupada em depurar sua maior criação – o Império, face iluminada da classe senhorial (MATOS, 1987: 227).
A preocupação em civilizar o Brasil fez com que, no mesmo século XIX, se discutisse a imigração de estrangeiros. Esta era entendida como uma forma de trazer novos hábitos culturais, de difundir o cultivo de outros produtos e técnicas agrícolas e industriais ou, ainda, de acordo com a mentalidade vigente, aumentar o contingente demográfico de europeus e seus descendentes – os únicos capazes de produzirem uma sociedade civilizada, segundo o entendimento à época dominante.
Foi também em nome da civilização que o Brasil aprofundou um vigoroso debate educacional a respeito do ensino agrícola durante a segunda metade do século XIX. Essas discussões persistiram, atravessando as primeiras décadas do século XX. Um debate que reunia juristas, políticos, médicos, clérigos, militares e professores, dentre outros. Todos eles buscando apoiar-se em preceitos cientificistas.
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