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Sagot :
Neo Escravismo. Criação de um novo conceito partindo de reflexões em Karl Marx.
Podemos perceber uma mudança no cenário do trabalho atual em comparação com os cenários de trabalho ao longo da história humana. Na concepção histórica de Marx, a luta de classes se faz onipresente, “Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos”. (Marx, Manif. Do Part. Comun.).
A diferença não seria qualquer mudança na estrutura das classes, elas se mantém, no passado e em nossos dias, mas esta incongruência está em como o proletário enxerga suas condições, ou ainda, como ele encara sua condição e se esta classe identifica, com clareza, o seu antagonista. No decorrer da história, as classe que tinham caráter de oprimidas tinham o conhecimento claro de sua condição, e ainda, tinham o conhecimento claro de seu antagonista, ou seja, a classe agente da ação opressora na qual estão submetidos. O escravo da pólis grega sabia de sua condição de escravo oprimido, e além disso tinha conhecimento de sua classe antagônica (ou opressora), que seria o cidadão ativo político da pólis, o qual tinha que sustentar com seu trabalho. O camponês medieval que está na base da pirâmide de classes da época, da mesma forma sabia da sua condição de explorado – e aceitava esta condição de oprimido com a ajuda da igreja, que afirmava ser da vontade de deus ser a sociedade da forma que era -, e além deste fato sabia identificar quem era seu antagonista imediato, a saber, o nobre feudal. Enfim, os exemplos são enumeráveis e claros, mas não merecem, neste escrito, serem explicitados, pela sua semelhança acentuada.
Remeteremos, neste momento, a condição da classe com caráter de explorada que nos defrontamos hoje em dia - O Proletariado, eis a alcunha que esta classe ganhou neste momento histórico burguês. Ainda no alvorecer do sistema capitalista, o proletariado tinha, sensivelmente, o conhecimento de sua condição. O trabalhadores urbanos industriais que mantinham uma jornada de trabalho de 18 horas/dia amargavam sua condição com duras penas, a condição de explorado e humilhado era lembrada em cada segundo dessas intermináveis 18 horas. O seu inimigo também era claro, a saber, o capitalista, onde este deseja o máximo de miséria possível ao seu exército trabalhador, deixando apenas o bastante para que esta classe exista e se multiplique em favor de seus interesses. Nos tempos mais atuais não podemos afirmar, com exatidão, se a classe proletária tem consciência de sua condição, e ainda, de seu inimigo opressor. Vemos que, nos dias de hoje, a jornada de trabalho nos países com certa estabilidade financeira reduziu drasticamente com relação aos séculos anteriores, passando de cerca de 18horas/dia para em média 6 à 8 horas/dia. Atestamos também a luta dos sindicatos e organizações por melhores salários, melhores condições de trabalho, garantias e etc., onde estas reivindicações, uma hora ou outra, serão atendidas e a satisfação se faz geral. Ora, concluímos haver um entorpecimento da classe em relação a sua condição. Em auxílio deste entorpecimento, temos em conta as ferramentas burguesas que são: religião, mídia, drogas lícitas e ilícitas, proporcionamento de diversão esporádica aos finais de semana e etc., que dão conta da totalidade do “bem-estar” do trabalhador enquanto este não se encontra em seu ambiente de trabalho. Nos defrontamos atualmente com um trabalhador feliz, que se diverte calorosamente com sua cerveja e seu futebol no fim de semana, que está satisfeito com o aumento de 5% do seu salário, que está reconfortado com a promessa do paraíso redentor que virá após sua vida de trabalho árduo, sagrado e dignificante, em resumo, vemos um proletariado preocupado em receber uma melhor condição para a sua escravidão. “O aumento de salários forçado (abstraindo de todas as outras dificuldades e, sobretudo, de que tal anomalia só poderia manter-se pela força) não passaria de uma melhor remuneração dos escravos e não restituiria o significado e o valor humanos nem ao trabalhador, nem ao trabalho”. (Marx, Manuscritos Econ. Filos., p.169-70). Com relação a sua classe antagônica, da mesma forma não podemos atestar a clareza do conhecimento por parte da classe operária. O centro do poder agora está disperso e fantasmagórico. Qual cabeça nobre a classe trabalhadora deve mandar hoje para a guilhotina? Qual o centro do sistema? Qual o alvo que, estando derrubado, também derrubaria de vez o sistema? Seria o estado? Propriamente e somente os capitalistas? A religião? A dificuldade de encontrarmos um alvo se instala, mas não somente isto, a dificuldade de acharmos métodos para a derrubada do alvo se faz presente. Poderemos, atualmente, com armas na mão derrubar mais uma Bastilha? Poderemos mirar na cabeça do nosso Czar e darmos um tiro certeiro matando este e o seu poder opressor? Bem, desconheço quem poderia responder a essas questões, mas afirmo que o proletariado que nos deparamos neste momento não tem esta capacidade.
Contatamos a “felicidade”, o desconhecimento da condição, o entorpecimento. Vemos um trabalhador feliz, sem conhecer sua condição, sem conhecer, ou se quer saber se há, seu inimigo opressor. Eis o novo escravo, eis o Neo Escravismo.
FONTE:
http://ensaiohumano.blogspot.com.br/2011/07/neo-escravismo-criacao-de-um-novo.html
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