[ UMA IDÉIA HOMICIDA ]
Parecia muito preocupado; pensava em Bertaleza que , a essas horas , dormia lá embaixo num vão de escada. aos fundos do armazém,perto da comuna.Mas que diabo havia ele de fazer afinal daquela peste? E coçava a cabeça,impaciente por descbrir um meio de ver-se livre dela.É que nessa noite o Miranda lhe falara abertamente sobre o que ouvira de Botelho,e estava tudo decidido: Zulmira aceitava-o para marido e Dona Estela ia marcar o dia do casamento.
O diabo era a Bertoleza!...
E o venderia ia e vinha no quarto;sem achar uma boa solução para o problema .Ora,que raio de dificuldade armara ele próprio para se coser!...Como poderia agora mandá-la passear assim,de um momento para outro , se o demônio da crioula o acompanhava já havia tanto tempo e toda a gente na estalagem sabia disso?
E sentia-se revoltado e impotente defronte daquele tranquilo obstáculo que lá estava embaixo , a dormir , fazendo-lhe em silêncio um mal horrível ,pertubando-lhe estupidamente o curso da sua felicidade , retardando-lhe, talvez sem consciência , a chegada desse belo futuro conquistado á força de tamanhos privações e sacrifícios! Que ferro!
Mas, só com lembrar-se da sua união com aquela brasileirinha fina e aristocrática, um largo quadro de vitórias asgava-se defronte da desensofrida avidez da sua vaidade.Em primeiro lugar fazia-se membro de uma familia tradicionalmente orgulhosa , como era , dito por todos, a de Dona Estela; em segundo lugar aumentava consideravelmente os seus bens com o dote da noiva, que era rica; e , em terceiro , afinal ,caber-lhe -la mais tarde tudo o que o que o Miranda possuia , realizando-se deste modo de um velho sonho que i vendeiro afogava desde o nascimento da sua rivalidade com o vizinho.
E via-se já na brilhante posição que o esperava uma vez de dentro , associava-se logo com o sogro e iria pouco a pouco , como quem não quer a coisa , o empurrando para o lado , até empolgar-lhe' o lugar e fazer de si um verdadeiro chefe da colônia portuguesa no Brasil; depois quando o barco estivesse navegando ao largo a todo o pano -- tome lá alguns pares de contos de réis e oasse-me para cá o título de Visconde!
Sim,sim,Visconde ! Por que não ? E mais tarde com certeza , Conde ! Eram favas cantadas!
Ah! ele, posto nunca o dissera a ninguém , sustentava de si para si nos últimos anos o firme propósito de fazer-se um titular mais graduado que o Miranda. E , só depois de ter i título nas unhas , é que iria á Europa, de passeio , sustentando grandeza , metendo invejas , cercadi de adulações , liberal,pródigo,brasileiro , atordoando o mundo velho com o seu ouro novo americano!
E a Bertoleza? gritava-lhe do interior uma voz impertinente .
--É exato ! E a Bertoleza? ... repetia o infeliz, sem interromper o seu vaivém ao comprido do alcova. o cortiço.São Paulo.Moderna.
TEM UMA OUTRA PARTE DO TEXTO , NÃO SEI SE TEM A NECESSIDADE DE COLOCAR , MAIS ESPERO QUE ME AJUDEM NESSA TRÊS PERGUNTAS.
1-Nesse texto.temos o ponto de vista de João Romão sobre a questão da ascensão social.Segundo ele, para que serve o casamento?
2-''Bertoleza devia ser esmagada,devia ser suprimida , porque era tudo que havia de mau na vida dele!'' A que momentos da vida de João Romão se refere essa passagem?
3-No que se refere ás relaçoes humanas , como João Romão vê Bertoleza e Zulmira ? A que são reduzidas essas mulheres por ele?