O grande nome da prosa barroca de língua portuguesa é o Padre Antônio Vieira, cuja obra apresenta
sua reflexões sobre questões polêmicas, políticas e sociais, de sua época. No Maranhão, onde foi
missionário, proferiu o famoso sermão conhecido como Sermão de Santo Antônio aos Peixes, do qual
transcrevemos o fragmento abaixo, da parte IV.
A primeira coisa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os
grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. (...)
Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros. Tão alheia coisa é não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer. Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que pego aos peixes, para que vejam quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós viras os olhos para os matos e para o Sertão? Para cá, para cá: para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se
comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vede vós todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aqueles subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer e como se hão de comer.
Nesse fragmento, podemos afirmar que a reflexão feita pelo Padre Antônio Vieira incide essencialmente
sobre:
a) a posição da Companhia de Jesus, à qual estava subordinado
b) a agitação da vida urbana em oposição à vida nos matos e sertão
c) o canibalismo indiscriminado praticado pelos peixes
d) a escravização de indígenas e negros
e) o comportamento do ser humano que, na busca pelo poder, despreza, oprime e explora outro ser humano
sua reflexões sobre questões polêmicas, políticas e sociais, de sua época. No Maranhão, onde foi
missionário, proferiu o famoso sermão conhecido como Sermão de Santo Antônio aos Peixes, do qual
transcrevemos o fragmento abaixo, da parte IV.
grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. (...)
Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros. Tão alheia coisa é não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer. Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que pego aos peixes, para que vejam quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós viras os olhos para os matos e para o Sertão? Para cá, para cá: para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se
comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vede vós todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aqueles subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer e como se hão de comer.
sobre:
a) a posição da Companhia de Jesus, à qual estava subordinado
b) a agitação da vida urbana em oposição à vida nos matos e sertão
c) o canibalismo indiscriminado praticado pelos peixes
d) a escravização de indígenas e negros
e) o comportamento do ser humano que, na busca pelo poder, despreza, oprime e explora outro ser humano