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DADOS DA QUESTÃO 

 

O gênero do discurso notícia 

A função precípua deste gênero, de acordo com os manuais e os estudos da esfera jornalística, é informar, relatar. Lustosa (1996) apud Nascimento (2005) afirma que a notícia é a técnica de relatar um fato, que a notícia é o relato, não o fato. Ao concebermos, porém, a língua como atividade, ao compreendermos que o uso da língua é um processo interativo, em que o locutor deixa no seu texto as suas marcas, a sua subjetividade, e o interlocutor participa desse processo, refutando, reformulando e respondendo, concebemos os textos dentro de uma perspectiva dialógica. Assim, a notícia não é somente um texto informativo, é perpassada pela argumentação; argumentação de base linguística, presente em toda atividade verbal. 

Sob este prisma, a notícia, enquanto gênero que emerge de um processo social, que corresponde a uma esfera da atividade humana, não pode ser pura e simplesmente um texto informativo, reflexo da verdade. A notícia é, nesse viés, um gênero que manifesta os posicionamentos do seu locutor e porque não dizer da esfera que a veicula, pois a estrutura composicional, as escolhas lexicais estão em consonância com as intenções de quem escreve que, por sua vez, está inserido em uma esfera social, corroborando com o discurso desta. 

 

O jornal O Globo de hoje publicou esta foto de Evo Morales, presidente da Bolívia. Na edição impressa consta a seguinte legenda: Índio americanizado: Morales toma coca-cola durante manifestação. Que primor, não é mesmo? Como se consegue tanto com tão pouco! Neste breve texto estão presentes concepções sobre o que é ser índio, o que é ser americanizado, o que é correto ou não para um índio fazer… Agora transformado em inimigo número 1 da nação, Evo Morales é atacado na sua característica mais genuína e inconteste: a ascendência indígena. Afinal, um verdadeiro índio não deveria tomar coca-cola, não é mesmo? Aliás, não deveria mesmo era ser presidente, nénão

Você acha que eu estou sendo radical? Talvez. Mas tente imaginar qualquer outro presidente com semelhante legenda, algo como, por exemplo: ”Nordestino americanizado: Lula toma coca-cola em passeata”. Estranho, pra dizer o mínimo. Bom exemplo de que aquela revista semanal é o menor dos nossos problemas, porque lá a manipulação é grosseira; portanto, evidente. Mensagens como essa, quase sub-reptícias, numa simples legenda, ajudam a construir imagens distorcidas e preconceituosas. 

  

Helê
PS: Ao baixar a foto, de Michel Filho, do site do jornal, li a legenda preparada para a versão online “O presidente boliviano, um ex-líder dos plantadores de coca e crítico ferrenho do ”imperialismo americano”, bebe Coca-Cola em manifestação”. Que diferença, não? A referência étnica sumiu por completo, e o texto tenta esclarecer a incongruência no ato do presidente. Resta agora desvendar as razões dessa longa distância entre um leitor e outro, por que tanta atenção com um e tamanho desleixo com outro. 

 

Considerando o trecho do texto teórico Estratégias Argumentativas no Gênero do Discurso Notícia e a notícia, redija um parágrafo dissertativo apontando: 

  

a) qual o sentido da expressão “a notícia é o relato e não o fato”; 

b) qual o relato e o fato apontados pela autora do blog Duas Fridas na legenda

 

Sagot :

A) A frase aborda a ideia de que o gênero textual da notícia é incapaz de falar exatamente o fato. Sempre o interlocutor vai colocar sua visão de mundo pra relatar o que aconteceu. É por isso que as vezes vemos jornais com a Folha, o Estado, e assim por diante, abordando de formas diferentes o mesmo acontecimento. 

b) Comenta e satiriza, o fato de um índio apenas por tomar coca, ou seja, algo diferente e nada mais que apenas uma degustação, já não é notícia é tablóide de fofoca, onde o simples fato de beber ou provar algo diferente pode causar confusão no mundo da notícia e da esfera jornalística.